Rio Preto é Rock

Livro passa a limpo a história do rock na cidade do interior paulista

por Bento Araujo     14 abr 2015

A História do Rock de Rio PretoNas últimas seis décadas, o fenômeno rock ‘n’ roll sacudiu milhares de cidades mundo afora. Gerações foram convertidas, mas todos esses cenários e lembranças, muitas vezes acabam sendo perdidos nas areias do tempo. Até surgir figuras como Julio Verdi, rio-pretense da gema, que realizou um trabalho épico e fundamental em seu livro A História do Rock de Rio Preto.

Na contracapa da obra Julio diz: “A intenção foi tentar dar à história do rock de nossa cidade, uma embalagem à altura de sua grandeza cultural, além de preservar a memória de quem se envolveu com a cena rock das últimas décadas. Meu desejo é que este trabalho inspire outros movimentos, que mais e mais pessoas se movam, no sentido de apoiar, divulgar e ampliar os espaços que o rock tem na sociedade, garantindo que as novas gerações possam manter essa paixão viva”.

Depois de ler isso e sentir o peso dessa obra em minhas mãos, imediatamente entrei em contato com o Julio para levar esse papo que você confere abaixo.

pZ – Quando você percebeu que a sua cidade, Rio Preto, possuía uma cena musical intensa ao ponto de servir de inspiração para um livro de quase 900 páginas?

Julio Verdi – Eu conheço a cena da cidade desde o início dos anos 1980. Frequentei os primeiros festivais que começaram a ocorrer naquela época. Mas como eu falo no livro, tinha muita gente fazendo algum movimento ligado ao rock bem antes daqueles tempos. Mas é claro que nos anos 80/90 a coisa inflamou. Com o advento do primeiro Rock in Rio, a exposição cada vez maior de todos os estilos na grande mídia e a vinda de grandes bandas ao Brasil fizeram com que o movimento fervesse. Resgatar a história de mais de 250 bandas que passaram por Rio Preto nos últimos 50 anos foi, além de uma aventura prazerosa, uma forma de tentar mostrar ao Brasil que por estas bandas aqui a cultura não é apenas relegada a festas e músicas tradicionais da região. E o intuito básico do livro foi nivelar todas as bandas, no quesito respeito, independente do estilo que praticaram ou da extensão de suas carreiras.

pZ – Você parou um ano inteiro da sua vida para se dedicar ao livro. Fale um pouco mais sobre isso.

JV – Há muito tempo que tenho como atividade paralela divulgar, da melhor forma possível, o trabalho das bandas de rock da cena independente. Já assinei coluna semanal de rock no jornal da minha cidade (o 4º maior do interior paulista) e até hoje mantenho meu blog e divulgo em outros canais. E por conhecer a cena daqui, eu sempre imaginei que um dia alguém poderia deixar registrados fatos que certamente se perderiam no tempo. Quando me desliguei da empresa onde atuava, em 2012, eu decidi que seria a hora. Mas o trabalho foi ficando imenso, diversas entrevistas por semana, novas e novas bandas do passado sendo descobertas, gente que vinha até mim querendo contar sua participação. O que era para durar alguns meses e ter pouco mais de 300 páginas, acabou virando esse monstrinho que pesa quase dois quilos e tem 856 páginas. Claro que tive que me virar para ir levando a minha vida doméstica paralelamente ao desenvolvimento do trabalho, mas chegou um momento em que eu quis mesmo fazer algo forte, de qualidade no quesito editorial e gráfico.

pZ – Além das bandas de rock da cidade, lojas de discos, bares e estúdios também estão no livro. Como foi mapear tudo e fazer esse levantamento?

JV – No fervor de minha juventude conheci muita gente, nos anos 1980/90. Além de me conhecerem eu acompanhei de perto o trabalho deles. Já para as décadas anteriores e posteriores, foi um trabalho investigativo e de certa forma, arqueológico. Alguém tinha o telefone de alguém e aí eu ia atrás. As primeiras lojas de discos eram de amigos, alguns bares também. Quem não me conhecia tomava paixão pela ideia, em poucos minutos de conversa. Muita gente que se envolveu na cena não estava mais na cidade, alguns já falecidos, outros de difícil acesso. Mas mesmo assim tentei buscar uma abrangência geral do que ocorreu aqui em termos de rock, fazendo inclusive muitas entrevistas à distância (telefone, e-mail, videoconferência). A divulgação via rede social foi outra ferramenta que trouxe muita gente para o rol das entrevistas.

pZ – Você bancou e fez tudo sozinho. O livro foi impresso com um material de primeira: capa dura, papel couchê, encadernação costurada… Não houve um interesse municipal, ou de alguma instituição cultural, para bancar um livro com essa proposta? Você chegou a pensar em buscar alguma lei de incentivo cultural?

JV – Sim a produção foi toda minha. Tentei apoio municipal e estadual. Consegui verba na Lei Rouanet, mas nenhuma empresa, dentre as dezenas que consultei, se interessou em participar do projeto. O próprio prefeito atual participou de bandas do passado, mas não me atendeu nas três vezes que tentei contatá-lo via sua secretária. Tentei a Secretaria de Cultura local e também não obtive sucesso. Então fiz um plano de negócios e decidi produzir por minha própria conta. Até agora o projeto não se pagou, mas falta pouco. Por isso eu disse que esse trabalho tem uma aura totalmente ideológica. Fiz para tentar deixar registrado na história o trabalho de quem ralou pelo rock na cidade, nunca com interesse de ganhar dinheiro. Algumas pessoas me ajudaram de forma crucial, como o Fábio Matta, que fez a arte da capa e o Robert Ishizawa, que fez a paginação. O Ivan Busic (baterista do Dr. Sin), que nasceu em Rio Preto, foi muito atencioso e topou fazer o prefácio da obra. Mas o resto ficou por minha conta.

pZ – Como vem sendo a repercussão desde o lançamento?

JV – A noite de lançamento foi um verdadeiro encontro de gerações de músicos e consumidores do rock daqui. Muita gente na cidade tem o livro. Acredito que a grande totalidade gostou. Claro que ninguém agrada 100% em qualquer trabalho feito, mas não só o pessoal envolvido no livro, mas vários jornalistas e pessoas da mídia em geral manifestaram palavras elogiosas e motivadoras. Esse foi meu lucro, as pessoas entenderem as dificuldades e mesmo assim perceberem que foi um trabalho de qualidade. Aos poucos o âmbito nacional entra no panorama, pois tem muita gente que curte literatura rock, independente da cena regional abordada. Eu, na condição de consumidor de rock, sempre compro trabalhos similares, então acho que muita gente no país ainda vai ter contato com o livro. Pelos recursos mínimos, a divulgação foi feita de forma simples. Sempre abordei pessoas ligadas à cena rock do país e solicitei a divulgação.

pZ – E para quem tiver interesse em adquirir um exemplar?

JV – Pode me encontrar no Facebook (basta procurar “Júlio Verdi”), ou por e-mail, no julio.verdi@terra.com.br. Eu envio para todo Brasil. O livro custa entre R$ 65,00 e R$ 75,00, depende do canal de venda. Quem quiser adquirir o livro em lojas, ele está disponível na Tudo Rock (www.tudorock.com.br) e na Die Hard (www.diehard.com.br).

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