Led Zeppelin – Knebworth ‘79

Relembrando as duas últimas apresentações do Zeppelin na Inglaterra com John Bonham

por Bento Araujo     07 nov 2014

Led Zeppelin 1979Foi no mês de maio de 1979 que uma coluna do jornal Evening News anunciava que o Led Zeppelin se apresentaria no famoso festival de Knebworth pela quantia de 100 mil libras. Poucas horas depois a bomba já estava sendo confirmada na BBC TV. Não demorou muito e o New Musical Express daquela semana estampava na capa a manchete: “Zep apresentam-se num concerto chocante”.

No mês seguinte os ingressos começaram a ser vendidos, por preços bem atraentes, diga-se de passagem, uma exigência de suma importância do grupo. Page tinha inclusive um cast em mente para o mega concerto. Mas apesar da insistência do guitarrista, alguns nomes não puderam comparecer. Mesmo assim um dos grupos favoritos de Page e Plant estaria se apresentando, o Fairport Convention. As demais bandas seriam: Dire Straits, Joni Mitchell e Little Feat.

Apesar da empolgação quase adolescente de Page, Plant já era mais cético com a realidade. Talvez a única coisa que realmente lhe confortasse era o fato de que as novas canções estavam encaixando-se perfeitamente com o material mais jurássico, como ele mesmo costumava chamar as músicas mais antigas do grupo. Segundo Plant, depois dessa longa ausência dos palcos britânicos, os fãs naturalmente iriam não adorar a banda espontaneamente, mas sim julgá-la.

No mesmo tempo em que o Melody Maker confirmava a presença de Ron Wood e Keith Richards, com seu novo projeto, The New Barbarians, no espetáculo; o promotor do show, Fred Bannister, apostava na fidelidade dos fãs do Zeppelin. Pontos oficiais de venda de bilhetes para o Knebworth foram montados por toda Europa, Estados Unidos e Canadá. O promotor aguardava no mínimo 100 mil pessoas nos dois sábados de festival, 4 e 11 de agosto de 1979.

Na noite de segunda feira, cinco dias antes da primeira apresentação, fãs começavam a chegar de todo o mundo a Knebworth. Na sexta feira, mais de 30 mil jovens já estavam aguardando a abertura dos portões, que foram abertos na parte da tarde, 18 horas antes do início do festival. Isso porque os fãs já haviam violentado as cercas por mais de três vezes.

O sábado amanheceu com uma verdadeira peregrinação de rockers rumando para a frente do palco. Logo o local parecia uma vila medieval, com fogueiras por todo lado e um constante cheiro de maconha no ar.

Quem abriu a festa foi o Fairport Convention, que devido aos compromissos só pode comparecer na primeira data. Na seqüência o pessoal conferiu um cast um bocado diferente daquele traçado por Page. Todos se deleitaram com o som divertido dos sulistas do Commander Cody, substituindo o Marshall Tucker Band, que estava no cartaz, mas cancelou de última hora. Aliás depois que o Lynyrd Skynyrd havia arrasado com um show três anos antes no mesmo festival, os organizadores sempre encaixavam combos sulistas no cast. Na seqüência vieram: Chas and Dave, Southside Johnny e Todd Rundgren amparado de seu Utopia.

A ausência do Led nos palcos ingleses foi sendo sentida na medida que a noite caia. Desde 1975 que eles não se apresentavam ‘em casa’, já que a tour de 1977 não passou pela Inglaterra. Tal fato aumentava e muito a emoção dos fãs, admirados com o volume de som que saía dos PAs, com as luzes e principalmente com o telão gigantesco colocado no fundo do palco.

O show do Led começou com “The Song Remains The Same” e teve mais de três horas de duração, passando a limpo toda a gloriosa carreira da banda. Nas primeiras três músicas o baixo de John Paul Jones não ecoava dos PAs – inexplicavelmente alguém tinha simplesmente esquecido de plugá-lo no direct box, uma caixinha que divide o sinal do baixo para os amplificadores e para a mesa e conseqüentemente para os PAs. Os fãs foram à loucura com as fumaças espirais e luz branca em “Achilles Last Stand”, apresentada por Plant como ‘a canção da cadeira de rodas’, referindo-se a gravação do álbum Presence.

led-zeppelinOutros pontos altos no quesito visual foram a pirâmide de laser em “In The Evening” e o solo de Page com um arco de violino também a laser. O som da bateria de Bonham estava simplesmente sublime e a platéia ouviu apenas duas novas canções: a própria “In The Evening” e “Hot Dog”, ambas do novo disco que a banda lançaria poucos dias depois dos shows. Quando o show se aproximava do final, Plant disse: “Essa próxima canção é dedicada a todos vocês que vieram aqui, as pessoas que nos ajudaram durante todos esses 11 anos”, era “Stairway To Heaven”, o hino definitivo do grupo e dos anos 70. Depois dela ficou visível que o grupo não queria abandonar o palco; o calor e a receptividade dos fãs ingleses foi muito além do esperado, pelo menos pela parte de Plant. Não é a toa que a banda realizou três encores: “Rock n’ Roll”, “Whole Lotta Love” e “Heartbreaker”.

Page não se agüentava de alegria e declarava: “Todo a imprensa do mundo dizia que éramos mais populares na América do que na Inglaterra. O fato da gente tocar os dois fins de semana em Knebworth foi maravilhoso justamente por mostrar o tamanho do público que ainda seguia os nossos passos. Todos diziam que na Inglaterra a gente não atraía mais os jovens, mas eu tinha certeza de que isso não acontecia. Foi um show muito especial…estávamos afastados a tento tempo…Me lembro da platéia cantando ‘You’ll Never Walk Alone’ quando saímos do palco e voltamos para o bis. Foi muito emocionante, afinal era a platéia de nossa terra natal, estávamos em casa. Pode acreditar, eu estava com os olhos cheios de lágrimas”.

Em 11 de agosto o Led Zeppelin repetiu a dose, apesar de não fazer uma apresentação tão inesquecível como a anterior. Alguns críticos ficaram desapontados com a performance ‘arrastada, sem brilho e com solos incoerentes – apenas uma releitura das glórias passadas’, pelo menos foi o que disse um renomado crítico da imprensa inglesa. Page até hoje se defende dessas críticas: “Nós sempre dávamos o sangue em nossas apresentações. Não tocávamos ao vivo desde 1977 e a primeira coisa que fizemos após gravar In Through The Out Door, na Suécia, foram os shows em Knebworth. Mesmo que a gente não estivesse tocando tão bem como antes, nós ainda éramos melhores do que qualquer outro grupo da época”.

No cast da segunda data, saiu o Fairport Convention e entrou o New Barbarians, que era formado pelos guitarristas dos Stones (Keith Richards e Ronnie Wood), Ian McLagan nos teclados, Stanley Clarke no baixo, Bobby Keys nos sopros, Sugar Blue na harmônica e Zig Modeliste na bateria. Clarke estava indisposto e para o show foi substituído pelo então baixista de Rod Stewart, Phil Chen. Todos da banda estavam loucos para cumprimentar Page pelo show da semana anterior, mas o guitarrista não deu as caras: “Eu não socializei com ninguém antes de subir ao palco naqueles shows. Eu passava a maior parte do tempo na minha, meditando e me concentrando para o show. Não tive contato nem mesmo com o pessoal das outras bandas: Keith Richards, um cara que eu adoro, e Todd Rundgren estavam lá querendo falar comigo, mas não mudei meus princípios. Até hoje, antes de um show, eu preciso de um tempo para me isolar e me concentrar”.

No final da segunda apresentação, a banda tinha acabado de executar “Stairway To Heaven” e Robert Plant permaneceu imóvel no gigantesco palco, olhando para aquele mar de fãs barulhentos que acendiam seus isqueiros. Aqueles místicos segundos mexeram definitivamente com o vocalista, que depois de mais alguns instantes pegou o microfone e caminhou para a beirada do palco. Depois de mais um silêncio de alguns segundos, Plant soltou a frase: “É muito, muito difícil dizer… boa noite”.
Apenas mais um daqueles momentos inesquecíveis do rock n’ roll…

knebworth79 programaE na passagem de som…

Do lado de fora os jovens fãs do Led acampavam, cozinhavam em fogões improvisados e acendiam fogueiras, embalados pelo som que vinha do lado de dentro da cerca: a passagem de som noturna do Led Zeppelin em Knebworth. Quem relembra é Jimmy Page: “Estávamos tocando ‘Trampled Underfoot’ na passagem de som. Eu estava concentrado na guitarra e quando olhei em volta percebi que Jason Bonham estava na bateria! Isso porque o seu pai se mandou pra frente do palco para ouvir o som da bateria como um todo. Lembro da cara de John na frente do palco dando risada da nossa cara. Jason tinha apenas 13 anos de idade mas John tinha o encorajado muito desde o momento que ele conseguiu ficar sentando no banquinho de uma bateria. Era incrível como Jason tinha a mesma abordagem do pai, principalmente no som do bumbo”.

Limpando a Barra

Quem começa contando é Jimmy Page: “Freddie Bannister e Peter Grant tinham feito um acordo. Por encomenda de Grant, uma foto aérea foi feita pela NASA no dia do show e nela aparecia muito mais gente do que Freddie tinha declarado para nós. No fim das contas estavam roubando nosso dinheiro!”.

Na primeira apresentação do Zeppelin em Knebworth, Grant insistia que 150 mil pessoas compareceram, contra 110 mil declaradas pelo promotor do evento. Durante a semana que separou as duas apresentações o clima ficou pesado, com Grant afirmando que contrataria uma equipe especializada para fazer a contagem do público na entrada do festival. No backstage da segunda noite, o clima que já era tenso ficou quase impraticável.

O público tinha sido a metade do fim de semana anterior, o que foi o bastante para quebrar Freddie Bannister, que garantiu que depois da vista grossa de Grant, todo o dinheiro arrecadado na segunda apresentação ficou para o grupo.

Meses depois dos shows, um anúncio de página inteira aparecia no Melody Maker; era Bannister tentando limpar a barra na imprensa. O informe publicitário fazia questão de esclarecer que o Led Zeppelin não tinha nenhuma responsabilidade nas dívidas criadas e que Peter Grant tinha sido um cara ‘cooperativo e compreensivo’. O promotor ainda declarava que seria um imenso prazer trabalhar com a banda no futuro, o que nunca aconteceu, é claro…

Artigo originalmente publicado na edição especial de aniversário da pZ, dedicada aos grandes shows e discos ao vivo da história do rock

  1. Deboro melo

    Sem dúvidas uma grande banda que fez história. .não como comparar essas bandas de hoje em dia. Que são tão fracas e sem expressão. É um marco na história do Rock pra ficar para a posteridade..

    Responder

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