Great Western Express ’72

Um festival britânico que marcou época mas que poucos lembram atualmente

por Bento Araujo     11 jul 2014

gwfestern-poster600

Bardney, Lincolnshire
(UK)May 26th-29th 1972

O slogan do GWE era “The Festival They Couldn`t Stop”. “Eles” eram a corte inglesa, que não queria deixar o show acontecer de qualquer maneira, ameaçando os organizadores que caso a vizinhança fosse perturbada pelo barulho e pela bagunça dos hippies e motoqueiros, todo mundo iria para a cadeia. Essas ameaças acabaram dando um tom de incerteza no evento, que até a primeira banda subir no palco, estava correndo o risco de não acontecer.

Apesar dessa incerteza e do mau tempo, o Festival foi um grande sucesso, graças ao cast estelar e ao alto astral da galera que compareceu. Falando em mau tempo, o vento e a chuva quase derrubou o palco, que teve que ter sua cobertura trocada as pressas. Além desse palco principal, como é comum nos festivais europeus, outros dois palcos não paravam de trazer atrações bacanas, como a Folk Tent, com Anne Briggs, Bridget St. John, etc., e a Giants Of Tomorrow Tent, com bandas que segundo a organização estariam “prestes a estourar”, como Budgie, Patto, Jonesy, Jade Warrior, Skin Alley, Capabillity Brown e outros.

Dentre as grandes atrações, o Status Quo chegou impressionando, pois em 1972 eles já estavam convertidos ao boogie (foi nesse ano que lançaram o genial Piledriver), então muita gente esperava que eles chegassem todos impecáveis e psicodélicos, mas na verdade o boogie rolou solto, com todos vestindo jeans, camisetas e longas cabeleiras, além de Rick Parfitt com sua bota com o adesivo “Slade Alive”. Falando em Slade, eles também arrasaram, pois estavam no auge da força e jovialidade. O set foi parecido com o do disco ao vivo irretocável daquele ano, para o deleite dos presentes.

Com o glam rock explodindo o GWE também ficou conhecido por trazer a estréia do Roxy Music nos festivais. Foi o primeiro grande concerto deles e o disco de estréia dos rapazes ainda estava pra ser lançado. Como mandava o figurino, chegaram dando uma de estrelas da noite e com uma atitude “não me toque e nem chegue perto”, claro que destoou completamente do clima da festa, repleta de lama e camaradagem. Outra banda que estava tinindo foi o Genesis, que teve a chance de se apresentar para uma platéia mais abrangente do que sua legião de fãs que já os seguiam pelos clubes e arenas. Foram muito bem recebidos por sinal, assim como Joe Cocker e o Faces, que estava em plena tour do álbum A Nod As Good As A Winky.

Quem estava escalado para o evento e não apareceu de última hora foi o Sly & The Family Stone. Para o lugar deles os organizadores escalaram outra grande banda norte-americana, os Beach Boys. O som californiano da banda transportou todos os presentes que estavam encharcados de lama e com os dentes trincando de frio. Curioso também o fato da platéia estar bem tranqüila e relaxada, apesar da presença sempre intimidadora da polícia e dos Hell`s Angels, que dessa vez se comportaram para o bem geral do evento. Talvez as várias atrações folk deram uma acalmada na galera, como aconteceu com o show da Incredible String Band, Strawbs e Lindisfarne.

Do lado mais pesado, o GWE também trouxe o Nazareth (ainda em começo de carreira), o Wishbone Ash, Atomic Rooster, Stone The Crows, Rory Gallagher e Humble Pie, esse último arrasando e estreando o novo guitarrista, Clem Clempson. Ao lado do Quo, o Pie fez o boogie rolar solto pelos campos ingleses, impressionando a galera com a performance sempre arrebatadora do líder Steve Marriott. No meio desse avassalador cast o pessoal ainda caiu na gargalhada com o Monty Python, que nessa época estava levando seu humor da TV para os festivais.

Como publicou o Melody Maker, o Great Western Express foi um dos mais bem sucedidos festivais da Inglaterra em toda sua história.

Faça um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *