O que aconteceu com o jornal Circo?

O mítico jornal musical carioca que infelizmente não saiu do número zero

por Bento Araujo     11 nov 2014

circo-jornal74Nome: CIRCO
Nacionalidade: Brasileira
Ano de atuação: 1974
Número de edições lançadas: 1

Em 1974, o rock tomava conta do Brasil, ainda abalado com o fenômeno Secos & Molhados.

Alice Cooper havia acabado de realizar shows históricos em São Paulo e no Rio de Janeiro. O rock estava nas revistas, nos jornais e nas TVs. Gravadoras locais, como a Continental, passaram a investir em conjuntos brasileiros e 1974 marcou a estreia de nomes como Made In Brazil, Som Nosso de Cada Dia, Ave Sangria, Casa das Máquinas etc.

Para acompanhar essa explosão, faltava uma publicação brasileira sobre rock. Uma versão pirata da Rolling Stone havia passado por aqui como um relâmpago, em 1972, mas acabara de forma melancólica. A revista Geração Pop (depois apenas Pop) era mais uma revista teen de comportamento, apesar de trazer algumas páginas dedicadas ao gênero e às bandas mais quentes da época. No entanto, a carência era enorme para quem quisesse apenas ler um bom texto sobre rock, em português.

Com essa preocupação foi criado o jornal musical carioca Circo, num formato parecido com o dos semanários britânicos de música (Melody Maker, NME, Sounds, Disc etc.). A publicação seria comandada pelo diretor Múcio Borges de Fonseca e pelo editor Luis Carlos Cabral.

Na redação estavam nomes importantes do nosso jornalismo rock, como Luis Carlos Maciel (que havia sido editor da nossa Rolling Stone), Antonio Bivar, Ezequiel Neves, Okky de Souza e Peninha Schmidt, além de correspondentes em Salvador, São Paulo e Londres. Bancando esse pessoal estava o uísque Passport. Tinha tudo pra dar certo.

O número zero do Circo foi distribuído nas rádios e nas lojas de discos, apenas para a imprensa e consumidores diretos, antes de ir para as bancas. Tanto que a minha edição está com o carimbo “Circulação Interna – Venda Proibida”. A data na capa é de 17 de maio de 1974, e a chamada principal ilustra uma imagem de um maço de cigarros como o rock ‘n’ roll, um cinzeiro e um isqueiro: “Rock, um produto de classe internacional, chega ao Brasil”.

A excelente e não creditada matéria de capa debatia a inserção do Brasil no mercado internacional de shows, dando uma geral na então recente passagem de Alice Cooper por aqui e anunciando a tour de Miles Davis para aquele mesmo mês. Outros shows também foram anunciados no artigo: Rolling Stones, Pink Floyd, Dylan, George Harrison, Paul McCartney, Who, Zeppelin e Jackson’s Five. Das promessas, apenas a última se concretizou.

Na pauta da Circo número zero estavam também entrevistas e textos com Jorge Mautner, Caetano Veloso, Lou Reed, Rita Lee, Macalé, Dylan, Marianne Faithfull, Walter Smeták etc.

Quando todos esperavam o #1 a tenda do Circo simplesmente murchou.

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