Os Melhores Discos do ZZ TOP

A mistura infalível de boogie sacana, belas mulheres, tequila e carrões turbinados vem agradando muitas gerações de fãs espalhados por todos os cantos do planeta.

por Bento Araujo     08 jan 2015

ZZ Top

Seria o ZZ TOP uma das bandas mais divertidas da história do rock? Certamente! A mistura infalível de boogie sacana, belas mulheres, tequila e carrões turbinados vem agradando muitas gerações de fãs espalhados por todos os cantos do planeta.

Formado em Houston, Texas, em 1970, o ZZ TOP surgiu da junção de dois grupos psicodélicos: o Moving Sidewalks e o American Blues. O primeiro chegou até a ser elogiado por Jimi Hendrix, que presenteou o líder da banda com uma guitarra de sua coleção particular. O felizardo era Billy Gibbons, talvez o guitarrista de blues que melhor trabalharia no idioma do hard rock durante as próximas décadas.

Gibbons deu sorte de trombar nas estradas do Texas com uma cozinha robusta e sempre competente: Dusty Hill e Frank Beard.

Baseados no nome do mestre B.B. King, o trio criou o nome ZZ TOP e fez sua primeira apresentação em fevereiro de 1970, logo partindo para uma tour local, abrindo os shows de lendas do blues como Muddy Waters, Howlin’ Wolf e Lightnin’ Hopkins.

Depois desse batismo de fogo, o grupo sempre fez questão de trilhar uma estrada de muito sucesso. Há mais de quatro décadas o ZZ TOP leva um pequeno gostinho do Texas pro mundo.


First Album (1971)

A estreia do ZZ TOP continua tão bacana depois de todos esses anos simplesmente pelo fato de ser o retrato mais fiel das origens do grupo; aqui você se depara com gírias texanas, guitarras embebidas de fuzz, piadas sujas e pitadas da essência do blues.

Honesto e espontâneo até a medula, First Album soa robusto para o fã mais hardcore do trio. Já com o grande público o papo é diferente, pois a estreia da banda talvez seja o único disco que não trazia nenhum hit de sucesso, mas sim temas poderosos, como “Brown Sugar”, “Neighbor, Neighbor”, “Goin’ Down To Mexico”; a bela balada “Old Man” e o blues certeiro de “Just Got Back From Baby’s” e “Certified Blues”.

First Album serviu também para apresentar um jovem novo ídolo da guitarra norte-americana, Mr. Billy Gibbons.

Rio Grande Mud (1972)
O segundo álbum da banda pode ser encarado como clássico absoluto do southern rock; não é a toa que caras como Warren Haynes e Rickey Medlocke veneram tal bolacha até hoje.

Um pouco mais confiante e agressivo do que na estreia, o trio atacava novamente, sempre apostando numa receita infalível que mesclava uma espécie de “chauvinismo confederado” com uma bela queda pelos atraentes costumes dos vizinhos latinos ali do outro lado da fronteira.

Rio Grande é na verdade o rio que divide o Texas do México, então nada mais natural do que a banda se lavar com a sagrada lama de tal afluente.

Musicalmente, o destaque vai para dois temas cantados pelo baixista Dusty Hill; “Francine” e “Chevrolet”; para a pegada de sons como “Just Got Paid” e “Down Brownie” e para a tocante balada “Sure Got Cold After the Rain Fell”.


Tres Hombres (1973)

Toda a excelência da música do ZZ TOP está gloriosamente contida em Tres Hombres, o terceiro álbum da banda texana. As mudanças começaram cedo naquele ano de 1973, com o trio roubando o show dos Stones em Honolulu, no Havaí.

Para o próximo disco de estúdio mudanças eram feitas: pela primeira vez decidiram gravar no Ardent Studios, localizado em Memphis, onde o produtor e fiel escudeiro, Bill Ham, contou com a ajuda do engenheiro Terry Manning. O resultado foi um álbum certeiro e direto; irretocável, o melhor da banda e que até hoje é quase unanimidade entre os fãs.

Nas paradas o álbum foi puxado pelo magnífico boogie “La Grange”, uma homenagem a um lendário puteiro visitado por Gibbons nos primeiros dias do grupo, o Gracie’s Chicken Farm.

A abertura rolava com dois números arrepiantes: “Waitin’ for the Bus” e “Jesus Just Left Chicago”, que abriam o caminho para um verdadeiro hino do rock sulista: “Beer Drinkers and Hell Raisers”, canção executada também por grupos como o Motörhead e o Van Halen. O background psicodélico de Gibbons floresce novamente nos wah wah’s de “Shiek”, onde ele cita até a cidade do Rio de Janeiro; “Master of Sparks” também tem slides psicodélicos e “Hot, Blue and Righteous” é uma das melhores baladas da banda registrada em disco. De quebra, Tres Hombres trazia ainda a canção “Move Me on Down the Line”, um autêntico hino do rock festeiro, regado a cerveja e garotas gostosas.

Assim como as vendas, o público nos shows crescia absurdamente. Num gigantesco estádio de Austin, TX, fizeram o famoso “ZZ Top’s First Annual Texas-Size Rompin’ Stompin’ Barndance and Bar-B-Q”, contando com o apoio de Santana, Joe Cocker e Bad Company.

Atenção: foi só em 2006 que Tres Hombres recebeu uma digna reedição em formato digital. As edições anteriores do CD não traziam o mix original de 1973. O mesmo aconteceu com o álbum Fandango!.

Fandango! (1975)
Foi com este álbum que o trio texano se estabeleceu na América como uma das maiores forças do rock e do boogie, vendendo sem muito esforço, um milhão de cópias.

Tres Hombres tinha apresentado a banda ao grande público, no entanto foi com este álbum, metade ao vivo e metade registrado em estúdio, que as duas facetas do ZZ Top ficaram escancaradas aos olhos e ouvidos do pessoal.

Começando ao vivo, todo o suor e dedicação do trio fora captado pelas mãos do produtor Bill Ham, que garantiu nas liner notes do álbum: “Essa música está sendo trazida até você da forma mais honesta possível, sem qualquer assistência de truques ou maquiagens feitas em estúdio”.

O massacre começava com “Thunderbird” e “Jailhouse Rock”; e terminava com um medley de tirar o fôlego.

A parte de estúdio é irretocável, trazendo seis clássicos absolutos do cancioneiro do grupo, algo que como um terceiro lado extra de Tres Hombres, com destaque para o lamento de “Blue Jean Blues”, a sacanagem de “Mexican Backbird”, o groove de “Nasty Dogs and Funky Kings” e “Heard It on the X” e o boogie em estado bruto do mega-hit “Tush”.

Numa época em que álbuns ao vivo eram nada mais do que um greatest hits caça-níquel, o ZZ TOP dava um passo inusitado, apostando em novas composições e na energia inigualável de suas apresentações ao vivo.

Tejas (1976)
No começo de 1976 o ZZ TOP alugou uma espelunca e a transformou em estúdio, onde passaram três meses ensaiando cerca de dez horas por dia! O resultado de tanta dedicação nesse crucial período de pré-produção está neste álbum, mais um clássico da extensa discografia do trio.

Tejas ganha pontos ao mesclar o velho e tradicional boogie (“Arrested For Driving While Blind”) com sensibilidade acústica de arrepiar (“Asleep in the Desert”). A diversidade não termina por aí; “Snappy Kakkie” é um disco-reggae (como definiu o batera Frank Beard); “It’s Only Love” é festa pura como reza a cartilha dos Stones e “El Diablo” parece ter sido cunhada pelo próprio cramulhão, devido a sua levada assombrosa.

Tejas serviu também como pano de fundo para uma das maiores e mais perversas tours da história do rock, a Worldwide Texas Tour, onde o ZZ TOP rodou o país de costa a costa, literalmente levando a cultura texana para o palco; com muitas cobras, búfalos, lobos, porcos e “vegetação” natural do deserto. Os pobrezinhos dos animais acabaram sofrendo demais com o volume do trio no palco e alguns acabaram até morrendo no meio da tour. Certamente o Greenpeace e as sociedades protetoras dos animais passaram a odiar o ZZ TOP.

Deguello (1979)
Depois do sucesso do álbum Tejas e da auto-indulgente tour que se seguiu, o ZZ TOP praticamente encerrou suas atividades, extra-oficialmente falando. Cada integrante tirou férias do outro e somente três anos depois que eles voltariam a trabalhar juntos, e em casa nova, já que a poderosa Warner comprou o passe do pessoal. Sempre é bom lembrar também que, na década de 70, geralmente os grupos lançavam pelo menos um álbum por ano.

Foi durante as férias que Gibbons e Beard deixaram crescer espantosamente suas barbas, enquanto que Beard mantinha apenas um discreto bigode (justamente o sujeito que tinha o sobrenome “Beard”, ou seja, “barba”). Mais um ponto a favor da banda, um visual único e divertido.

Depois de uma simples ouvida neste álbum de 1979 dá pra sacar que as merecidas férias fizeram muito bem aos rapazes. Apostando num som mais moderno, cristalino e até mesmo minimalista, o ZZ TOP gravou um excelente trabalho, mesclando magistralmente blues, R&B, rock dos anos 50 e funk.

Temos aqui uma versão de “Dust My Broom” de Elmore James; ainda na estrada do blues Gibbons cunhou também uma pérola: “A Fool for Your Stockings”. No lado mais funkeado da coisa, (lembrem-se, em 1979, o som da onda era o de grupos como o Chic) o ZZ TOP também se deu maravilhosamente bem, com os grooves matadores de “I’m Bad, I’m Nationwide”, “Cheap Sunglasses”, “Lowdown in the Street” e a versão de “I Thank You” do mestre do soul, Isaac Hayes.

Uma outra novidade era a formação do “The Lone Wolf Horns”, nada menos que o próprio trio atacando num naipe de metais. Esse molho especial pode ser conferido nos autênticos rocks de “She Loves My Automobile” e “Hi Fi Mama”. Nas letras, o senso de humor dominava tudo, e até musicalmente a banda parecia brincar com a cara do ouvinte, como fica evidente na ‘torta’ “Manic Mechanic”. Vai fundo!

http://youtu.be/oT6NF718fP4

Eliminator (1983)
A chegada dos anos 80 mexeu demasiadamente com toda a cena do rock n’ roll. A sensação era um bocado desconfortável para alguns mais conservadores; quem não se adaptasse a nova década certamente estaria fadado ao fracasso.

O ZZ TOP se recusou a ficar parado no tempo e traçou para a então nova década uma drástica mudança, reinventando tanto o seu som como sua imagem. O resultado foi um dos álbuns mais vendidos da história do rock.

Sintetizadores e efeitos eletrônicos já apareceram, porém até que timidamente, no álbum anterior (El Loco, de 1981), mas em Eliminator a coisa toda tomou forma de vez. O mais bem sucedido álbum da carreira do trio trazia um som único e perfeitamente adequado aos anos 80; mais dançante e menos calcado no blues.

O eletro-boogie da banda caiu como uma luva para a MTV, ainda uma novidade na América, que elevou às alturas a sua audiência exibindo massivamente os clips de “Gimme All Your Lovin'”, “Legs” e “Sharp Dressed Man”. Eliminator era mais do que um simples disco de rock, era um autêntico fenômeno de mídia.

Com Eliminator entrava em cena também o mais impactante ícone visual do grupo, um cherry-red Ford Coupe de 1933, totalmente turbinado.

Mais ZZ Top:

Para quem quiser uma boa e luxuosa compilação da longínqua carreira do ZZ TOP, o item mais saboroso é sem dúvida a caixa de quatro CDs: Chrome, Smoke & BBQ, lançada em 2003.

A jornada da banda para o lado mais tecnológico da coisa começou timidamente em El Loco, disco de 1981 que trazia também o hit “Leila”.

No auge dos dólares e da fama a banda lançou Afterburner, em 1985, outro sucesso arrebatador, com destaque para a balada “Rough Boy”.

Somente cinco anos depois o trio voltava a lançar um disco; Recycler saiu em 1990 e foi sucesso no velho continente, principalmente na Inglaterra.

Durante a década de 90 o número de lançamentos não aumentou muito, com a criatividade do pessoal infelizmente dando uma estagnada. Desse período são os discos: Antenna (1994), Rhythmeen (1996) e XXX (1999).

No novo século o trio lançou dois discos bacanas, Mescalero (2003), e La Futura (2012), além de um CD/DVD ao vivo: Live From Texas.

Outro item recomendado para quem aprecia a fase mais blues e genuína do grupo é a coletânea One Foot in the Blues, lançada em 1994.

  1. Pedro Aujor

    belissimo o resumo da carreira do melhor e mais longevo power trio do rock. vale a pena lembrar as pessimas edicoes em cd dos primeiros discos do zz top com mudancas nas mixagens e com um pessimo som de bateria eletronica, pegando carona no sucesso da banda nos anos 80… felizmente a coisa foi corrigida e é possivel conseguir os discos com as musicas nas suas mixagens originais. abraços de um fã incondicional do poeira mundo (revista, site, podcast, etc).

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  2. Claudinei José de Oliveira

    ZZ Top! Esses estão num poster na parede do meu quarto. Admiro profundamente não só os discos comentados (com maestria, diga-se de passagem), mas toda a obra desses malucos que não deixam o autêntico, bom e velho rock’n’roll se enferrujar, sempre tratando-o com zelo, como uma boa, velha e turbinada caranga, sempre polido e pronto para o pega.

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