Na corte com Robert Fripp

Entrevista histórica de 1974 com o guitarrista do King Crimson é publicada pela primeira vez na íntegra na nova edição da pZ

por Bento Araujo     15 ago 2014

FrippDepois de um longo hiato, o King Crimson está de volta. Robert Fripp acordou sua criatura após uma hibernação de anos e se apresenta com a sua banda, por diversas noites, em Nova York, no próximo mês. Uma turnê pelo mundo deve ser anunciada em breve e parece que a América do Sul está nos planos de Mr. Fripp. Para celebrar essa volta, nos unimos ao jornalista norte-americano Steven Rosen, que entrevistou o “entrevistável” guitarrista em algumas ocasiões no decorrer dos anos. A mais completa, interessante e “difícil” dessas entrevistas aconteceu em 1974, quando o King Crimson estava lançando uma de suas obras definitivas: Red. Parte deste papo foi publicado na revista Guitar Player, há 40 anos, mas na nova edição da pZ você confere a primeira parte dessa histórica entrevista, publicada pela primeira vez na íntegra.

Por que você toca sentado nos shows?

Porque não é possível tocar guitarra em pé. Pelo menos eu não consigo. Eu ficava desconfortável quando tocava em pé, nas bandas semiprofissionais. Com o King Crimson eu fiz cerca de três, ou quatro, shows tocando em pé e pensei: “Não tem jeito, eu simplesmente não posso tocar dessa maneira”. Greg Lake disse: “Você não pode tocar sentado no show, você vai ficar parecendo um cogumelo”. Eu senti que não era a minha função ficar de pé e parecer mal humorado. Meu trabalho era tocar e eu não conseguia fazê-lo em pé. Geralmente eu acho difícil tocar num palco e detesto gravar. Suponho que se apresentar ao vivo seja a coisa que eu mais gosto de fazer. Vamos colocar de outra forma: é uma das coisas que eu menos desgosto.

Você acha que as pessoas pensam que você é mal humorado por tocar sentado?

Eu não poderia me importar menos… O curioso e perverso é que, de um ponto de vista de apresentação cênica, isso me possibilita uma espécie de presença de palco que eu não teria de outra forma, já que ninguém, mais faz isso. E tem também uma relação com algo que eu sempre acreditei: seja apenas você mesmo.

Quando você começou a tocar guitarra?

Comecei por volta dos 11 anos de idade, com uma guitarra horrível, uma Manguin Frere acústica.

Esse tipo de pergunta lhe aborrece?

Eu deixarei você ciente quando me incomodar… Era virtualmente impossível pressionar uma nota abaixo do quinto traste naquela guitarra. Aquilo mutilou meu jeito de tocar, mas desenvolveu a minha musculatura. Foram necessários vários anos para me controlar. Um ano depois, eu passei a tocar uma Rosetti, outra guitarra vagabunda e horrível, mas com um captador instalado. Mas eu não tinha um amplificador e o captador quebrou. De qualquer maneira, eu continuei com um instrumento fraco.

Quais guitarristas têm muita espiritualidade e força em sua música?

Se você quiser pegar o Eric Clapton, por exemplo. Pra mim seu estilo de tocar tem pouca originalidade. Eu diria que a área que ele atua é banal e limitada. Mas em várias ocasiões, sua música é mágica. Em outras palavras, as notas não são realmente importantes, mas sim o que surge através das notas. Se você trabalha dentro de uma área formal e limitada – onde a música de Clapton é baseada, em licks e clichês – a magia simplesmente não permeia as notas.

Você acha que Eric Clapton nunca criou uma música mágica?  

As notas não resistem nem formalmente, se você preferir, como uma estrutura musical, ou como um apelo ao espírito. É por isso que eu acho importante que o King Crimson toque uma considerável proporção de composições próprias. Então naquelas noites onde não existe uma simpatia, ou uma empatia, entre os homens, ou quando não alcançamos vastos campos de inspiração, pelo menos a forma como a música é apresentada é interessante, mesmo que num nível limitado. Nas noites onde a força está fluindo por você, não é preciso se preocupar com as notas, basta deixar aquilo sair de você. Obviamente, os melhores músicos e as melhores criações musicais não apenas contêm mágica, mas uma centelha da eternidade, ou algo parecido. Elas também têm uma forma superior.

A matéria completa você lê na pZ 55.

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