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Poucos escutaram, ou se impressionaram, com o Beckett, mas um jovem baixista ficou espantado com o que presenciou: Steve Harris
O Beckett não deu certo por uma questão de timing. Se este único elepê do grupo britânico tivesse sido lançado três anos antes, em 1971, talvez a história hoje fosse outra.
A fusão de progressivo, hard, orquestrações e art rock promovida pela banda soava datada no final de 1974, quando este disco chegava às lojas do Reino Unido. Poucos escutaram, ou se impressionaram, com o material, mas um jovem baixista ficou espantado com o que presenciou: Steve Harris. Tanto que Harris guardou no peito a influência do Beckett, manifestada dez anos depois, quando o seu Iron Maiden regravou “A Rainbow’s Gold” para o lado B de um compacto.
Claro que a levada funkeada de “A Rainbow’s Gold” acabou sendo a maior porta de entrada para jovens do mundo todo redescobrirem este trabalho do Beckett, que foi produzido pelo vocalista do Family, Roger Chapman, para o pequeno e nada longevo selo da banda: Raft.
Além da execução acima da média, o que salta aos ouvidos neste álbum são as composições inspiradas, os solos caprichados dos guitarristas Kenny Mountain e Robert Barton e os vocais soul de Terry Wilson-Slesser, um fã de Paul Rodgers e Robert Plant, que depois passou pelo Backstreet Crawler de Paul Kossoff, Charlie e até chegou a tentar cavar uma vaga dentro de bandas como Mott The Hoople, AC/DC e até no próprio Iron Maiden.
A imprensa britânica na época aprovou o disco: “Um lado depende de cordas e arranjos, mas o outro é recheado de rock. Eu não tenho certeza sobre o quanto é válido insistir em arranjos complicados que não podem ser reproduzidos no palco, mas o Beckett tem se saído bem na turnê que vêm fazendo com o Slade. Como primeira tentativa o disco é soberbo”.
As vendas foram ruins, mas com o disco, o Beckett foi parar no palco do Reading Festival daquele ano e no popular programa de TV The Old Grey Whistle Test. Depois ainda abriram shows do Thin Lizzy, Faces, Wizzard e Ten Years After. Beckett, o disco, é recomendado para quem gosta de Free, Spooky Tooth, Patto, Be Bop Deluxe e do bom prog inglês.
O baixista relembra o seu amor pelo Jethro Tull e a regravação de “Cross-Eyed Mary”
“O Tull é sem dúvida uma das minhas bandas favoritas e Aqualung é um disco clássico. A execução é fantástica, as canções são fantásticas – atitude, vibração; está tudo lá. Não tem como não reagir a Aqualung. Algumas canções são bem dark, mas outras são bem humoradas, sarcásticas e cínicas. Muitas coisas acontecem, que disco!
Com o Maiden, sempre gostamos de gravar covers para o lado B de nossos singles, mas gostamos de gravar canções que não são muito conhecidas do grande público. Por isso, sem chance da gente escolher ‘Locomotive Breath’ ou ‘Aqualung’, optamos portanto por ‘Cross-Eyed Mary’ para o lado B do single de The Trooper (1983).
Só depois descobrimos que ‘Cross-Eyed Mary’ tocou bastante no rádio pelos EUA. Se soubéssemos disso antes, provavelmente teríamos escolhido outra música para regravar. A nossa gravadora norte-americana da época tentou nos convencer a colocar ‘Cross-Eyed Mary’ em nosso disco Piece Of Mind (1983), mas mandamos eles irem cagar…”