Andy Fraser (1952-2015)

O ex-baixista do Free faleceu aos 62 anos de idade. Relembre a entrevista que fizemos com ele

por Bento Araujo     17 mar 2015

Andy Fraser

Foi confirmada a morte de Andy Fraser, no dia 16 de março, aos 62 anos de idade. O ex-baixista do Free faleceu em sua casa, na Califórnia.

A causa da morte ainda não foi confirmada, mas sabe-se que Fraser sofria de Aids e havia superado um câncer recentemente.

O baixista começou bem jovem, tocando com os pais do blues britânico: Alexis Korner e John Mayall. Passou por bandas como Toby, Sharks e Rumbledown Band, além de ter lançado vários álbuns como artista solo e com a Andy Fraser Band. Mas Fraser será sempre lembrado principalmente pelo trabalho que realizou ao lado do Free, onde atuava como baixista, pianista e compositor principal ao lado do vocalista Paul Rodgers. “All Right Now”, o maior sucesso da dupla, foi lançado em 1970.

Andy Fraser ainda influenciou milhares de baixistas mundo afora, com seu estilo único e seu timbre peculiar de contrabaixo elétrico. “Mr. Big”, outra composição dele lançada pelo Free em 1970, inovou por trazer um solo de baixo, algo atípico dentro do rock.

Abaixo relembramos a entrevista que fizemos com ele para a edição 36 da poeira Zine, que trazia o Free na capa e um especial de várias páginas sobre o grupo.

andycooljpgComo foi a experiência de tocar ao lado de John Mayall?

Uma grande experiência de aprendizado. Eu via a todos como os seniors, e não questionava nada; só tentava absorver tudo o que eu podia. Mick Taylor, aos 19 anos, era o mais próximo da minha idade, então nos dávamos bem. Na verdade éramos só nós que fumávamos baseado naqueles tempos, sorrateiramente. Provavelmente seríamos mandados embora se Mayall tivesse descoberto. Uma experiência inesquecível foi em Amsterdã, em minha primeira tour européia, fumando aquele bagulho forte que eles têm lá. De volta ao meu quarto, e essa foi a única vez que experimentei isso, deitado na minha cama, eu podia perceber perfeitamente todo o sangue em minhas veias, correndo para o meu pênis e causando uma intensa ereção. Fiquei tão dominado por isso que tive de ir contar a Mick, que me olhou com um ar tipo “você tá mesmo doidão, garoto”. Nosso corpo desempenha essas funções o tempo todo, e não temos consciência disso, então realmente dei muito valor. Nada sexual nisso… apenas percebê-lo foi uma emoção.

É verdade que você foi namorado da filha de Alexis Korner? Isso foi antes ou depois de você tocar na banda dele?

Sim. Nós íamos à faculdade juntos, e ela me levava à sua casa, onde a família mais ou menos me adotou, e Alexis tornou-se para mim um pai substituto. Isso foi antes de eu tocar em sua banda, o que machucou um pouco Sappho (a filha de Korner), eu acho, porque de sua perspectiva, o pai estava dando ao namorado dela toda a atenção.

A música “Mr. Big” tem um dos melhores solos de baixo da história. Como você conseguiu aquele solo em uma época em que a guitarra ditava as ordens em uma música, principalmente tendo o grande Paul Kossoff como guitarrista?

Nunca houve problema com Koss ou qualquer outro achando que o baixista não poderia fazê-lo. Lembro-me da música sendo feita em meu quarto, na casa de minha mãe. Toda a banda estava lá. Simon (Kirke) estava brincando no baixo, e tocou as três primeiras notas da introdução. E eu disse: “Toque isso de novo! Gostei disso.” Improvisamos por um tempo nesse tema, e quando chegamos à outra parte intermediária, comecei a fazer frases, algo entre Binky Mckenzie e uma faixa em um álbum de Isaac Hayes onde o baixista simplesmente levanta voo, e eu pensei: “Legal! Vou tentar”. Pra quem não sabe, Binky Mckenzie é um ex-namorado de minha irmã mais velha, e provavelmente o melhor baixista de todos os tempos, antes de ele matar quatro pessoas com as próprias mãos – está em prisão perpétua na Inglaterra…

O que você acha do Bad Company? Na sua opinião eles conseguiram ter o mesmo charme do Free ou se renderam ao som mais comercial?

Eu lhes desejo tudo de bom com seu sucesso comercial. Para muitos eles têm o mesmo charme e influência do Free, e para muitos eles não têm. Nenhum de nós consegue ser amado por todos.

Qual o real motivo do seu afastamento do Free e qual sua opinião sobre o álbum Heartbreaker?

Em poucas palavras, acredito que se nos primeiros dias Paul Rodgers e eu precisávamos um do outro para terminar as ideias de cada um, chegou um ponto em que isso não acontecia mais. Fomos em direções diferentes. Paul disse que queria ir em uma direção mais “Led Zeppelin”, o que para mim era absurdo, já que eu achava que eles estavam nos copiando, e eu queria seguir em direções desconhecidas, rumo ao horizonte, e ver o que descobriríamos. Ou seja, se os Beatles tivessem achado que estouraram com “I Wanna Hold Your Hand” e apenas se prendessem àquela fórmula, nós nunca teríamos algo como “Strawberry Fields Forever” e todas as outras canções originais que eles foram corajosos o suficiente para buscar. Não impor limites. Era uma época em que Paul Rodgers havia casado, tido um filho, pareceu ter ficado um pouco nervoso após o follow up de “All Right Now” não ter a mesma magnitude, e resolveu que era hora de ele tomar o controle. Fui tratado como um músico contratado, que deveria guardar suas opiniões para si, e Koss (Paul Kossoff) foi pego, e nós sabemos como isso terminou. Concluímos que não estava funcionando, e foi minha função anunciar que tínhamos nos separado. Então fui ludibriado, como se eu tivesse saído. Rodgers usou a oportunidade para continuar usando o nome Free, o que eu acho que poderia ter contestado, mas é tão triste quando as bandas fazem isso, e só assisti a banda sucumbir ao seu próprio peso, como achei que iria. Heartbreaker – hmmm… rima com Andy Fraser. Achei que havia algumas coisas boas, e outras não tão boas. Uma sensação de ruína. Snuffy (Walden), um guitarrista muito talentoso emulando Koss, etc. Pra mim foi melhor estar fora dessa.

Sharks

Andy Fraser no Sharks

Como foi trabalhar ao lado de Chris Spedding no projeto Sharks? Vocês ainda mantêm contato? Por que a banda não foi adiante?

Chris Spedding é um guitarrista muito qualificado, e tem uma doce personalidade, embora seja um pouco maluco. O problema é eu ter deixado o projeto se desenvolver ao meu redor, quando eu realmente queria e precisava fortalecer meus vocais. Em algum ponto, ou a banda, ou a gravadora concluiu que meus vocais ainda não tinham tanta força, o que podia ser verdade. Então trouxeram Snips, com quem eu realmente não chegava a um acordo. Aí, após Chris Spedding bater o famoso “Sharkmobile” numa árvore e eu quebrar o dedão, não podendo tocar por um tempo, eu disse: “é melhor vocês acharem outra pessoa pra tocar o baixo”, o que foi minha saída. Recentemente nós mantivemos contato com Marty Simon, que mora no Canadá novamente, e planejamos nos encontrar quando ele vier ao sul da Califórnia com seu filho. Eu vi Spedding há poucos anos em Los Angeles, e ele estava morando no que parecia ser uma cabana de um junkie. Isso me entristeceu. Mais um guitarrista. Ouvi dizer que ele está indo melhor agora, e espero que seja verdade.

O que você achou da volta do Queen com Paul Rodgers, seu antigo companheiro de estrada?

Pegou-me de surpresa, como a todos. Provavelmente foi bom que Brian May tenha cuidado das coisas, deixando que Paul simplesmente cantasse, o que ele estava precisando, mas era algo como se B.B. King ou, digamos, Steve Winwood se tornasse o cantor do Queen, apenas um pouco estranho. Achei que era uma grande oportunidade de seguir em frente com um repertório matador, com novas músicas, e acontecer de verdade, mas algumas datas com uma nova versão do Bad Company é tudo o que parece ter acontecido em seguida. Sabendo que algo logo viria na sequência, como numa breve fusão corporativa, acredito que estejam usando um fantoche agora, em um novo projeto. Deve ter sido estranho, para Paul, ter um vídeo do cantor anterior (Freddie Mercury) projetado atrás dele. Não consigo imaginar uma situação dessas…

Existe alguma possibilidade de reunião do Free, ainda que só para um show apenas?

Há mais chance de nós nos casarmos novamente com as ex-exposas (risos). Essa questão aparece toda hora. Semana passada houve uma proposta séria para tocarmos no O2 (Arena) em Londres.

Fale sobre a RUMBLEDOWN BAND, da qual você participou ao lado de Frankie Miller e Paul Kossoff. Vocês deixaram algum álbum arquivado ou foi somente algumas demos, como a famosa “I Know Why The Sun Don’t Shine”? Por que o grupo não deu certo?

Foi tudo basicamente para ajudar Frankie Miller. Nunca houve uma “banda” de fato. Apenas fazia o que podia, quando podia. Eu escrevia músicas com ele, gravava, arrumava outros músicos que também o amavam tanto quanto eu, e há muitos, e ele pôs o nome “Rumbledown Band”. De vez em quando gravávamos no Basing Street Studios, da Island, que não era longe da casa de Koss, a poucas ruas dali, e Koss naqueles tempos ia cantarolando no saguão do estúdio, guitarra em punho, louco, perguntando a todos: “Posso tocar com você?”. Quando gravávamos “I Know Why the Sun Don’t Shine”, Koss aparecia, e embora estivesse bêbado como sempre, nós dizíamos, “ponha uma guitarra nesta parte”, e apesar das suas condições, fazia-a gritar, como você pode ouvir. Sim, Frankie tem centenas de pérolas inéditas, algumas compostas comigo, que o mundo deveria ouvir. Eu refiz uma – “Standind at Your Window”, em meu disco Naked… And Finally Free, inicialmente para o álbum-tributo a Frankie Miller, que pode ser encontrado no site mctrax.com. Pra quem não sabe, há vários anos (em 1994), Frankie, um de nossos melhores cantores, sofreu um aneurisma cerebral em Nova York, ficou em coma por três meses, e, com exceção de poucas partes do corpo, ficou paralizado desde então. Tem lutado até hoje, com a ajuda de sua esposa Annette, enfermeira e a melhor parceira que qualquer homem poderia ter. Uma santa.

Andy Fraser à frente do Free, 1968

Andy Fraser à frente do Free, 1968

Você foi um dos músicos/amigos que mais ajudou o guitarrista Paul Kossoff quando este estava afundado nas drogas. Houve um momento em que você desistiu de ajudar. Fale mais sobre isso…

Um dia fui à casa dele com meu roadie, Jim Macguire, que morreu na carroceria de um caminhão alugado quando foi a sua vez de tirar uma soneca lá atrás, nas longas jornadas entre shows nos States. Os roadies arrumavam os equipamentos após um show, e levavam para o próximo. Esse caminhão, em particular, tinha um vazamento de monóxido de carbono, e Jim foi encontrado morto quando foram acordá-lo. Não é o tipo de notícia de que precisamos logo antes de subir ao palco para o próximo show. Na casa de Koss encontramos centenas de doidões fracassados deitados por todo o chão, e Koss no andar de cima, debilitado, recebendo mais e mais drogas de outros fracassados. Não aguentamos ver aquilo e simplesmente o sequestramos (ninguém ali parecia perceber que estava tão louco), e o levamos para minha casa, a uma hora dali, em Surrey. Por três dias, tentamos tudo o que podíamos, e falhamos. Após três dias, tivemos de simplesmente levá-lo de volta. Essa experiência nos partiu o coração, mais do que você imagina.

Nos anos dourados do Free você sempre usou o Gibson EB3. Existiu alguma razão específica para isso acontecer? Esse ainda é o seu baixo favorito?

Creio que encontrei esse baixo por acaso. Era confortável, pequeno, o que me convinha, por eu ser baixo, então nós (o Free) nos tornamos um só, a meus olhos e aos dos outros também. Com exceção de Simon, que era umas polegadas mais alto, todos nós medíamos por volta de 1,65m. Esse baixo eventualmente foi roubado, o que foi uma merda, mas atualmente me parece mais confortável tocar com um Tobias, praticamente a mesma sensação. Tobias é uma pequena empresa que foi comprada pela Gibson.

Sua voz é muito forte. Por que você não cantava no Free, e quais cantores moldaram seu estilo de cantar?

Minha voz se tornou mais forte, mas eu queria cantar pelo menos um pouco com o Free, e me desenvolver nisso. Se você reparar, quando Rodgers cantou com Stevie Ray Vaughan, Gary Moore, David Gilmour – a lista é interminável, todos ótimos cantores, mas nunca cantaram com Rodgers. Pergunta-se: Por quê? O que posso dizer é que o mesmo se aplicava a mim, uma das razões pelas quais foi melhor eu partir pra outra. Paul foi, obviamente, uma grande influência, e todos os que nós ouvíamos, conforme já mencionei. Mas pode acrescentar Staple Singers, Beatles, atualmente John Mayer, Beyoncé… Dolly Parton é uma ótima cantora gospel, Lou Gramm, Steve Perry, Steve Winwood… Aprendo com todos, e gosto de muitos.

Qual era a “faísca” na parceria de composição Fraser / Rodgers?

Suponho que um tinha o que faltava ao outro. Personalidades muito diferentes. Quando se pensa nisso, eu sendo gay, e ele tendo que depilar as costas regularmente. Isso me faz pensar em, digamos, a dupla Lennon/McCartney, em que, quando duas personalidades tão diferentes encontram algo em comum, é possível dominar o mundo.

O que fazia de Paul Kossoff um músico tão especial?

Ele tinha um senso de integridade que nos mantinha sob controle, um incrível senso de humor, mantendo a verdade à frente, como um bom satirista faz, e ele tocava com o coração. A chave para emocionar as pessoas.

Você, mais recentemente, revelou que é gay, HIV positivo, e até já pensou em suicício… Como essas batalhas pessoais, emocionais e espirituais reverberaram em seu novo despertar musical?

Essas experiências despiram-me totalmente, mudando completamente meus valores. Quando fama, fortuna, amigos, médicos, tudo deixa de poder lhe ajudar, e eles perdem o valor, é hora de penguntar: o que restou? Fé. Fé em quê? “Encontrei Deus”, quando percebi que era gay. É o título de uma música do recém-lançado On Assignment em mctrax.com. Hoje, sinto todos os dias que tudo é um bônus, e vejo valor até mesmo nas menores coisas. A vida é grandiosa, sinto me livre, com sorte, grato, abençoado, quer dizer, quando não estou puto com algum fanático religioso idiota. Acredito que isso se reflete em minha música. Ser capaz de trabalhar com o que amo, sentir paixão por isso, é o maior presente.

Toby

Andy Fraser no Toby

Uma de suas últimas apresentações ao lado de Paul Rodgers foi no Woodstock II, em 1994. Conte-nos mais sobre aquela ocasião especial…

Acabou não sendo tão especial… Paul me telefonou de última hora e, estranhamente, foi direto ao assunto. Ele normalmente é vago e abstrato a ponto de dar tédio. Mas desconfio que eu não era a sua primeira escolha, e alguém deu um cano no último minuto. Eu respondo muito bem à franqueza. Na época eu estava em péssima forma física. Estava em uma clínica em Lake Tahoe, tendo o sangue trocado diariamente. Entretanto, estava curioso para ver como ele estava, e disse sim. Aí, ele me enviou uma fita cassette das músicas que ele queria tocar com um bilhete: “aprenda estas”, o que, tendo escrito metade delas, achei particularmente ofensivo. Mas fiquei na minha. As pessoas tendem a ficar na delas com relação a Paul por longos períodos, mas chega uma hora em que dizem, “ei, eu não preciso disso”. Então todos chegamos a Nova York para uns ensaios antes do show. Ironicamente, Brian May também estava entre nós, acreditando que incluiríamos algumas músicas do Queen. Suspeito que Paul achou melhor deixar Brian acreditar no que queria, e esperá-lo viajar com seu pessoal e equipamento de Londres a Nova York antes de lhe contar o contrário, ao invés de ser honesto desde o começo. Um tratamento que acho cada vez mais desprezível… A atitude de Paul foi: “Não vou cantar nenhuma porra de música do Queen”. Não surpreendentemente, Brian se irritou, telefonou-me e choramingou por uma hora, como se eu soubesse de qualquer coisa. Então ele voltou para Londres antes do segundo dia de ensaio; grande começo. Durante esses três dias, Paul deu a todos um contrato de quatro páginas, numeradas de 31 a 35. Eu disse a Paul que precisávamos ver as páginas de 1 a 30, ou ele deveria renumerar estas de 1 a 4. A isso se seguiu uma discussão entre a namorada dele e meu representante na Califórnia, uma coisa bem Spinal Tap. O discernimento de Paul nos negócios não rivaliza com suas habilidades como cantor. Mais uma vez, fiquei na minha. Dois carros nos levaram de Manhattan a Woodstock: um para Paul e sua namorada, e outro para o restante de nós. No último trecho, teríamos de ir de helicóptero, o que fizemos, exceto Paul, que pegou a balsa. Alguma coisa com medo de voar… Se nos falávamos, Paul se dirigia a mim como a alguém que ele mal conhecesse. Um dos músicos acompanhantes, talvez? A performance teve seus altos e baixos, e, para minha surpresa, algumas do Bad Company saíram melhores, das quais uma deveria ser escolhida para estar no DVD, mas Paul escolheu uma das piores porque todos os músicos convidados estavam no palco ao mesmo tempo. Em um momento em que ele deveria colocar a qualidade musical como prioridade. Então, eu queria descobrir como ele estava atualmente, e soube. Missão cumprida.

Que sessão de gravação você fez que os fãs provavelmente desconhecem?

Recentemente, após iniciar o selo Mctrax, um sistema de venda de música online que permite ouvir ou baixar música e vídeo (mctrax.com), nosso primeiro contratado é um prodígio de 16 anos, inglês – Tobi. Esse garoto, só digo isso porque ele tem 16 anos, é incrivelmente sofisticado, com uma maturidade além de sua idade, toca guitarra, canta e compõe, e me lembra nomes como John Mayer, Stevie Ray Vaughan, Jimi Hendrix, Robin Thicke, Michael Jackson, Eric Clapton, e terá uma longa carreira. Ele veio ao meu estúdio na Califórnia por três semanas, e nós ficávamos o tempo todo gravando sua voz, sua guitarra e suas músicas, para lançar no meio do ano quando ele voltar para se apresentar na mídia. Tocar com ele, observar como ele descobre coisas novas rapidamente, tão novo, inventivo, indo sempre à frente, ao horizonte, tem sido inspirador. Descubra mais sobre Tobi em mctrax.com

Quais são suas lembranças favoritas dos dois concertos do Free nos festivais da Ilha de Wight, em 1969 e 1970? Na época, que banda fazia o melhor show da Terra?

Melhor show da época… provavelmente The Who. Nunca vi Hendrix ao vivo, que eu adoro, e muitos outros, então só posso escolher entre os que vi. Os festivais da Ilha de Wight foram realmente uma bela experiência. Tão jovem, chegando de helicóptero, não foi apenas uma emoção, mas uma sábia decisão de Chris Blackwell, da Island, para garantir que estaríamos novinhos em folha para subir ao palco. O pandemônio no backstage, os egos e a energia gasta só por estar em um ambiente com 750 mil pessoas podem exaurir uma pessoa antes mesmo de chegar ao palco. Andando do helicóptero em direção ao palco, senti como que a presença de um extraterrestre, e encontrei por acaso Tiny Tim apoiado em uma cerca. Aquele cara estava em algum universo paralelo. O Free teve muita sorte porque o promotor dos festivais, Ricky Farr, tinha um irmão, Gary Farr, que operava o som. Paul e eu tivemos um pouco de tempo em sua casa em Londres, gravando demos de dois canais em seu gravador Revox. Ele fez todos os esforços para nos conseguir um bom som, o que, como você pode imaginar, numa situação em que a cada meia hora vem uma outra banda, é uma missão bem difícil. A energia de 750 mil pessoas lhe atingindo quando você sobe ao palco é como vestir um terno de chumbo. Tocamos talvez 15 minutos, demos tudo de nós, e logo depois estávamos totalmente esgotados.

Quais são suas principais motivações hoje? O que lhe mantém no rumo?

Bom, após ter reconhecido publicamente minha homossexualidade, processo que me paralizou por umas duas décadas, sinto-me como tendo uma nova vida, olhando sempre adiante. Ainda tenho os olhos no horizonte, e não no passado. A ideia de tocar velhas músicas noite após noite soa como a morte para mim, preso num túnel do tempo. Tive tanta sorte em encontrar minha paixão, meios de expressão e modo de viver ainda bem jovem. Já acordo ávido pelo trabalho. Minhas experiências me ensinaram/forçaram a ver o materialismo em outra perspectiva, e me sinto enriquecido. Cada dia é um bônus. Agora, com o selo Mctrax e novos artistas, é como completar um clclo. Estou adorando propiciar a outros a chance que me foi dada por algumas pessoas muito generosas, Alexis Korner entre elas.

Entrevista originalmente publicada na pZ 36, que tinha o FREE como capa

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