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A estreia do Lynyrd Skynyrd

Está tudo aqui, os ataques das três guitarras, os rocks básicos, as baladas trágicas/dramáticas, a temática machista e violenta – tudo embalado dentro da tradicional e rigorosa ingenuidade “Southern”.

por Bento Araujo     09 jul 2014

Lynyrd Skynyrd Pronounced

Lynyrd Skynyrd – Pronounced ‘Lĕh-‘nérd ‘Skin-‘nérd

Cru, descompromissado, intransigente, descomplicado, acirrado, austero, firme, implacável, incomplacente, inexorável, inflexível, inquebrantável, intolerante, intratável, supercilioso, teimoso, rigoroso, obstinado, ditatorial, imperioso. Algo mais?

Para descrever grandes discos de estreia, palavras faltam e ao mesmo tempo sobram.

Não é questão de ficar filosofando de forma gratuita, mas sim de tentar explicar o disco que não só apresentou o mais sulista dos combos sulistas ao mundo, mas que também fundou um estilo de fazer música. Está tudo aqui, os ataques das três guitarras, os rocks básicos, as baladas trágicas/dramáticas, a temática machista e violenta – tudo embalado dentro da tradicional e rigorosa ingenuidade “Southern”.

A confiança e confidência demonstradas por Ronnie Van Zant e seu Lynyrd Skynyrd em Pronounced é algo que marcou pra sempre o gênero, servindo de modelo para as futuras gerações de bandas sulistas. A partir daqui, todos teriam que ter uma faixa longa e dramática como “Free Bird” para encerrar as suas apresentações de maneira apoteótica. Foi Van Zant quem escutou o roadie e futuro tecladista da banda, Billy Powell, tocar a introdução de “Free Bird” num show de colégio. Até que o guitarrista Allen Collins tratou de imortalizar uma pergunta que havia escutado da boca de sua namorada: “If I leave here tomorrow, would you still remember me?”. O resto é história.

Vários outros fatores colaboram para Pronounced ser um dos grandes clássicos do Rock dos anos 1970. A produção do grande Al Kooper, por exemplo, joga totalmente a favor do time. Além de ser o sujeito que literalmente descobriu o Lynyrd Skynyrd, Kooper toca inclusive uma penca de instrumentos no disco, e é ele quem cuida da dose de melancolia em “Free Bird” e em “Tuesday’s Gone”, tocando Mellotron nessas faixas.

Falando em baladas melancólicas, outro acerto deste trabalho é a belíssima “Simple Man”, sempre um ponto alto no “arrepiômetro” durante as apresentações da banda.

Além de se sair muito bem nas baladas, o Skynyrd também atuava com propriedade em rocks sacanas como “I Ain’t The One”, “Gimme Three Steps” e “Things Goin’ On”. Soar assim tão convincente, em diversos tipos de composição musical – e num disco de estreia – é tarefa cumprida por poucos e bons. A banda ainda passeia pelo country blues em “Mississippi Kid”, com um belíssimo trabalho de cordas de Gary Rossington, Allen Collins e Ed King, esse último o mais experiente da turma, pois havia passado pelo grupo psicodélico Strawberry Alarm Clock. Foi King também quem gravou o baixo de seis das oito faixas, já que Leon Wilkeson deixou o Lynyrd por um breve período durante o início das gravações.

Leon voltou a tempo de gravar duas músicas e aparecer na capa e King foi para a terceira guitarra do Skynyrd, dando sequência a uma tradição criada pelo Fleetwood Mac dentro do blues britânico.

Texto de Bento Araujo