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poeiraCast 492 – Blues rock

Neste episódio, conversamos sobre o estilo que funde o rock ‘n’ roll com sua origem mais reconhecida: o Mais

por Bento Araujo     07 fev 2024

Neste episódio, conversamos sobre o estilo que funde o rock ‘n’ roll com sua origem mais reconhecida: o blues.

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Entrevista com Bobby Caldwell

Falamos por telefone com o baterista do Captain Beyond, Armageddon, Johnny Winter And etc.

por Bento Araujo     05 fev 2015

bobby c siteO que era pra ser um papo telefônico de vinte minutos acabou se estendendo para cerca de uma hora e meia de boa conversa. Simpático; sincero à beça e esbanjando alto astral, o batera Bobby Caldwell falou com a pZ direto de sua casa em Winter Park, Flórida, num domingo ensolarado e quente (pra eles) e frio e chuvoso (pra gente). Curta na seqüência o bate papo exclusivo.

poeira Zine – Você conhece o Rhino há muitos anos. Como essa amizade começou e como você foi convidado a se juntar ao Captain Beyond em 1971?

Bobby Caldwell – O Rhino cresceu numa cidade pequena que ficava umas duas horas e meia de onde eu vivia. Ele passou por muitas bandas amadoras, assim como eu, em Orlando. De tempos em tempos nos encontrávamos, batíamos um papo e assistíamos um a banda do outro. Por volta de novembro de 1969 ele entrou para o Iron Butterfly e seis meses depois eu me juntei ao Johnny Winter And. Um ano e meio depois, Rhino estava morando em Los Angeles, assim como Lee Dorman, e eles me mandaram um telegrama falando sobre o novo projeto que estavam montando juntos e ao mesmo tempo me convidando para tocar com eles. Logo depois fui tocar com a banda de Johnny Winter em L.A. e São Francisco e Rhino e Dorman vieram aos concertos para me ver tocar. Na seqüência, no verão de 1971, Johnny Winter resolveu dar um break e se retirar da cena musical. Eu não sabia o quanto longo seria essas férias dele, então achei um ótimo momento para começar um novo projeto. Assim me mandei para L.A. e comecei a tocar pra valer com Rhino e Dorman.

pZ – Vocês eram grandes fãs do Deep Purple na época? Como surgiu a idéia de convidar Rod Evans para o projeto?

BC – Naquela altura eu não havia ouvido muito o som do Deep Purple; e eu não posso te dizer o quanto Rhino e Dorman haviam ouvido o grupo… A verdade é que Rod estava morando em L.A. e estava já há algum tempo longe de sua ex-banda. Como precisávamos de um vocalista, Rhino e Dorman tinham o nome de Rod no topo de uma lista de possíveis contratações. Bastaria ver como ele se sairia tocando conosco.

pZ – Qual a sua relação e a do Captain Beyond com o Allman Brothers Band?

BC – Nessa época eu era muito próximo do pessoal do Allman Brothers Band e fiz várias jams com eles, como aquela que está registrada no CD The Fillmore Concerts (em “Drunken Hearted Boy”). Rhino também era muito amigo dos caras e tinha morado e feito jam com eles na Georgia por algum tempo. Em 1971 o Allman Brothers Band veio tocar em Los Angeles e o Captain Beyond tinha gravado, na casa do Rhino, uma fita demo com cerca de 20 minutos de duração. Após o show deles fomos até o quarto de hotel de Duane para dar um alô e também para tocar nossa fita para ele e para o Gregg. Duane adorou nosso material e ouviu aquilo com muita empolgação. Imediatamente ele começou a elogiar nossas composições e alertou a gente algo do tipo: “Não assinem nenhum contrato por aí, pois eu irei falar de vocês para o Phil Walden”, o presidente da Capricorn Records, selo do próprio ABB. Foi assim que fomos parar na Capricorn, por indicação de Duane e de Gregg, que imediatamente adoraram o som daquela demo do Captain Beyond.

Bobby Caldwell & Duane Allman - Santa Monica

Bobby Caldwell & Duane Allman – Santa Monica

 

pZ – E esse contrato com a Capricorn deu uma certa dor de cabeça para vocês não é, já que eles eram um selo especializado em bandas de rock sulista e country-rock?

BC – Pois é, como você deve ter percebido, o som do Captain Beyond nada tinha a ver com southern rock! (risos) Nossa música soava demasiadamente futurista para o selo e na verdade a única coisa que tínhamos em comum era a camaradagem com Duane e Gregg Allman. Provavelmente foi um erro para a Capricorn assinar um contrato com a gente… O fato de estarmos em Los Angeles e a sede da gravadora ser em Macon, na Georgia, também não ajudou nem um pouco… Era como tentar manter um casamento com sua esposa morando a milhas e mais milhas de distância (risos).

pZ – Engraçado que para mim o som do Captain Beyond era muito mais britânico do que norte-americano. Você concorda com isso?

BC – Absolutamente, você está certo (risos)! Estávamos tentando criar algo totalmente diferente naquela época; esse era o ponto. Não queríamos soar como outras bandas americanas, que eram ótimas por sinal…Queríamos soar somente como nós mesmos.

pZ – Você ainda se assusta com a força do primeiro álbum do Captain Beyond? Conte pra gente sobre o processo de gravação daquele álbum…

BC – Completamente; aquele ainda é um excelente álbum. Quando montamos o grupo, fomos todos para a casa de Rhino e ensaiávamos cinco dias por semana, das nove da manhã às cinco da tarde. Começamos a encarar isso como um trabalho sério e fizemos isso por muitos meses a fio. Isso ajudou muito, principalmente no fato de estarmos criando um novo e ousado tipo de música juntos. Tínhamos uma preocupação essencial: fazer com que aquelas novas composições soassem agradáveis para quem as ouvisse. Gravamos o álbum em Los Angeles e como tínhamos ensaiados bastante tudo acabou ficando mais fácil e o resultado dessa nossa dedicação está no disco.

pZ – O que você se lembra daquele assustador concerto do CB abrindo o show do Sha Na Na no Central Park de Nova York?

BC – Aquele foi o pior show da nossa carreira. Foi coisa da Capricorn colocar a banda naquela roubada (risos). Eles queriam fazer com que o CB estourasse na região de Nova York… Eles somente esqueceram que a gente tocava uma música espacial e progressiva e toda aquela platéia naquela noite estava vestida como o Fonzi do seriado Happy Days (risos), bem no estilo dos anos 50, com brilhantina no cabelo e jaquetas de couro. Claro que eles estavam lá para assistir ao Sha Na Na… Nós só éramos o grupo de abertura daquela noite e sofremos com isso. Lembro que no meio do meu solo de bateria, moedas e frutas foram arremessadas na minha direção (risos). Na maioria dos lugares em que tocávamos as pessoas curtiam o nosso som, mas nesse grande show no Central Park não foi o caso (risos)…

Lee Captain Beyondl

pZ – Já na estréia do grupo, no palco do Montreaux Jazz Festival a história foi diferente não é?

BC – Completamente. Tocar no lendário festival foi também idéia do Phil Walden, da Capricorn. Ele traçou uma estratégia para o CB, que consistia em primeiro “conquistar” o mercado europeu através de muitos shows por lá para só depois partir para o mercado norte-americano. O intuito dele era deixar o grupo a ponto de bala quando nós chegássemos para tocar nos EUA. Nosso show no Montreaux Jazz Festival foi ótimo, lembro de ter um pouco de nervosismo no ar pelo fato de ser a nossa primeira performance oficial, mas tudo correu ok e tocamos bem naquela noite. Lembro de que alguns jornalistas presentes ficaram muito impressionados e excitados com o nosso som, assim como a platéia, que prestou atenção a cada detalhe do nosso show. Aquela audiência do Montreaux Jazz Festival era muito atenta e posso te garantir que foi muito divertido e especial para nós.

pZ – Talvez o cast mais perfeito da história do rock foi o que contou com o Captain Beyond, o Gentle Giant e o Black Sabbath, dividindo o palco do Hollywood Bowl de Los Angeles. Conte algo sobre esse show…

BC – (espantado) Uau, eu não estou acreditando nessa pergunta (risos)! Você disse que o melhor cast foi esse com a gente, o Gentle Giant e o Black Sabbath? Meu Deus, você fez mesmo a sua lição de casa hein! As perguntas estão ótimas (risos)! Antes dessa data, o CB chegou a fazer uma outra data no Hollywood Bowl com o Alice Cooper Group, com quem nós inclusive fizemos nossa primeira tour norte-americana. A segunda vez no Hollywood Bowl foi exatamente essa com o Gentle Giant e o Black Sabbath. O show do CB nessa noite foi muito bom; o local estava completamente abarrotado de gente e o Gentle Giant também fez um show arrasador… Eles eram ótimos no palco, fiquei impressionado. Já o Sabbath era um grupo muito famoso na época, mas devo confessar que eles não são muito a minha praia; gosto de algumas canções deles, mas não é o meu estilo favorito de música. Quando tocamos na Inglaterra, ficamos amigos do Derek Taylor, que era o assessor de imprensa dos Beatles. O mais incrível é que durante esse nosso show no Hollywood Bowl, apareceu o Derek Taylor em pessoa para nos assistir, direto da Inglaterra, ou seja, ele veio para nos assistir do outro lado do Atlântico!

pZ – O que levou o Captain Beyond a encerrar prematuramente as atividades em 1973?

BC – Lembro que estávamos um pouco cansados daquelas tours e daquela rotina da estrada… Viemos passar o natal em casa e quando retomamos as atividades, no início do ano, Rod comunicou que estava deixando a banda… Todos ficaram perplexos, sem saber exatamente a razão pela atitude premeditada de Rod. Talvez tenha rolado uma falta de comunicação entre a gente… A questão é que ficamos surpresos com a saída repentina de Rod. Foi um choque, pois estávamos partindo para uma boa fase, onde faríamos certamente uma tour como atração principal e ganharíamos mais dinheiro. Isso é o que me lembro de ter rolado…

pZ – Você curte o álbum Sufficiently Breathless ou o fato do grupo lançar um disco com outro baterista no seu lugar foi como assistir a sua esposa te traindo na frente de todo mundo?

BC – Foi quando eu saí do grupo por cerca de seis meses que eles decidiram fazer esse segundo álbum. Ele (o álbum) soa diferente do que vínhamos fazendo até então… Eu gosto muito do Rod; ele é um grande letrista e possui uma voz única, mas apesar de eu curtir esse trabalho, posso te garantir que não se trata de um álbum do “verdadeiro” Captain Beyond.

pZ – Já que o assunto é a discografia do CB, o que você acha do álbum Dawn Explosion reouvindo-o hoje em dia? Você acha que o material desse terceiro álbum pode ser colocado lado a lado com o material mais antigo do grupo sem soar deslocado?

BC – Eu não gosto desse álbum (pensativo)… Até existem alguns bons momentos nele, mas o resultado final nunca me agradou. A intenção era gravar Dawn Explosion exatamente da mesma forma como gravamos nosso primeiro álbum, inclusive no mesmo estúdio. Buscávamos aquele som, que é o som verdadeiro do CB; essa era a nossa preocupação. Acabamos não conseguindo e fomos gravá-lo num outro estúdio. Acabamos perdendo a essência do nosso som… Dawn Explosion foi gravado debaixo de muita pressão e stress.

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pZ – E quais as melhores lembranças de tocar tocado ao lado de Johnny Winter?

BC – O mais engraçado foi como eu me envolvi com ele. Tudo começou quando eu recebi uma ligação de um cara que havia trabalhado com o Noah’s Ark, e ele disse: “Hey Bobby, você toparia fazer uma jam com Johnny Winter e banda? Será na casa dos meus pais!”. Eu disse: “Não estou interessado. Na minha opinião esse lance de fazer jam é muito chato”. O cara acabou me convencendo a pelo menos aparecer por lá para dar um alô e foi o que eu fiz. Chegando lá, o pessoal já estava mandando ver dentro da casa. Encostei o carro e fiquei só sacando o movimento, com gente entrando e saindo da casa o tempo todo. Quando eu estava pensando em sair fora o cara que tinha me ligado apareceu e me convidou para entrar. Quando cheguei na sala lá estavam Johnny e Edgar Winter, Rick Derringer e Randy Jo Hobbs. Vi a bateria no canto, com o nome “Johnny Winter” no bumbo e foi aí que saquei que aquilo era uma espécie de audição… Resolvi sentar na bateria para ver qual que era. Comecei com uma levada de bateria e todo mundo foi entrando na onda, me acompanhando. Fizemos uma jam de cerca de 40 minutos, sem interrupção. Quando acabamos, Johnny perguntou pra mim: “Você pode cair na estrada?”. Eu respondi que sim e ele falou: “Eu gostaria que você se juntasse com a gente”. Nisso, Edgar Winter disse “Hey, por que você não entra para a minha banda também?”. Todo mundo deu risada, mas eu acabei ficando somente com o Johnny Winter And, pois era mais a minha cara; mais orientado para guitarra e apreciado pelo tipo de público que eu queria atingir.

pZ – A integração entre vocês parece que foi imediata?

BC – Sim foi algo fabuloso. Aquela banda era sensacional. Rick Derringer e Johnny Winter duelando com suas guitarras todas as noites é algo que jamais esquecerei. Fizemos na época uma tour com o ELP e com o Humble Pie, que eram todos grandes amigos meus. Nessa tour nós éramos a atração principal todas as noites e isso era apenas um reflexo de como nosso show era poderoso e intenso, mexendo pra valer com as emoções da platéia. Éramos um time entrosado; ao vivo ninguém podia nos segurar.

pZ – Depois do primeiro fim do Captain Beyond, você fez parte de outro grande grupo de rock da época, o Armageddon. Como foi a sua parceria com o legendário Keith Relf?

BC – Quando Evans abandonou o CB, fiquei procurando o que fazer. Num belo dia eu estava bebendo no Rainbow Bar and Grill, um famoso clube da Sunset Strip, em L.A., muito freqüentado por músicos da época; e percebi que Keith Relf estava também por lá. Ele tinha um visual que chamava muita atenção e estava acompanhado de dois músicos: o baixista Louis Cennamo e o guitarrista Martin Pugh. Cheguei em Relf, me apresentei e disse que era um grande fã dele desde a época dos Yardbirds. Perguntei o que ele estava fazendo em L.A. e ele respondeu que estava tentando colocar em prática um novo projeto; uma banda de rock pesado. Trocamos nossos telefones naquela noite e logo ele me ligou, me convidando para integrar o Armageddon. Serei sempre um grande fã de Keith Relf; ele era um músico fantástico, além de ser também um letrista talentoso e um cara muito esperto; certamente Relf é um dos meus heróis na música. O Armageddon foi uma grande banda; pena que não gravamos uns quatro ou cinco álbuns, pois tenho certeza que tínhamos potencial para construir uma bela carreira.

pZ – Como a trágica e repentina morte de Keith Relf lhe afetou?

BC – Foi um terrível choque pra mim. Não sei te dizer exatamente o que aconteceu. Certamente a história que contaram para mim foi a mesma que contaram para você (nota: Relf morreu eletrocutado no banheiro de sua casa). O que mais machucou foi que Relf era o cara ideal para se ter como amigo; tinha um papo sempre interessante e um fabuloso senso de humor. Foi uma tragédia para todos que o conheciam. Nos anos 60 eu tinha assistido Relf nos Yardbirds, com Jimmy Page, e aquilo me marcou de forma única. Ter a oportunidade de tocar com Relf alguns anos depois foi algo muito gratificante.

pZ – Você ainda mantém contato com Rod Evans?

BC – Sim, eu falo com Rod de tempos em tempos. Ele está muito feliz atualmente: vive no norte da Califórnia; está casado, tem duas filhas e trabalha num hospital. Sempre que nos falamos eu tento convencê-lo a abandonar o seu “retiro” e voltar a cantar, mas até agora não tive muito sucesso (risos).

pZ – Aqui no Brasil, toda uma nova geração está descobrindo a música do Captain Beyond exatamente agora. O que você acha desse tipo de coisa?

BC – Saber que o público realmente gosta do que eu faço é algo que me deixa extremamente contente. Queria agradecer muito a vocês da poeira Zine e a todos os fãs brasileiros do Captain Beyond. É isso que faz tudo valer a pena na carreira de um músico. Eu queria muito ter a oportunidade de tocar aí no Brasil, seria um sonho pra mim. Até hoje o Captain Beyond continua sendo uma banda muito cultuada em todos os cantos do planeta e isso me deixa muito contente e satisfeito. Um grande abraço a todos vocês de São Paulo e do Brasil.

Artigo originalmente publicado na pZ 19

poeiraCast 218 – Retrospectiva 2014

No último programa do ano, repassamos o que rolou de melhor e pior em 2014: shows, discos, relançamentos, Mais

por Bento Araujo     17 dez 2014

No último programa do ano, repassamos o que rolou de melhor e pior em 2014: shows, discos, relançamentos, livros e, claro, a perda de vários de nossos ídolos.

ATENÇÃO: o poeiraCast entrou em férias e volta com força total em fevereiro de 2015.

Bye Bye Johnny

Um tributo pessoal ao mestre da slide guitar

por Bento Araujo     03 ago 2014

pZ55Vocês não vão acreditar, mas irei contar assim mesmo.

Durante uma bela tarde de inverno, interrompemos o trabalho aqui na redação da pZ para o obrigatório café. Estou conversando com meu amigo Ricardo Alpendre e ele me pergunta quem será a capa da nova edição. Dentre muitas opções, disse a ele que eu gostaria muito de fazer uma capa com o Johnny Winter.

Na minha cabeça seria bacana fazer uma capa com um ícone da guitarra, do rock e do blues, que completou 70 anos de idade este ano. Apesar dos seus problemas de saúde, na minha cabeça seria importante homenagear Winter ainda em vida.

Mas não deu tempo. Duas semanas se passaram daquela tarde e no dia 16 de julho veio a notícia: Johnny Winter havia morrido.

Como todo sangue bom do blues, morreu literalmente na estrada, em seu quarto de hotel, em Zurique, enquanto fazia sua enésima turnê europeia.

Para muitos de seus amigos e fãs, o fato de ter conseguido chegar aos 70 já foi um milagre. Por diversas vezes, Winter quase morreu de overdose, ou de alguma doença relacionada ao seu uso de drogas pesadas, como a heroína. Boatos de sua morte também rondavam a imprensa musical com certa frequência.

Sua presença num palco brasileiro foi anunciada diversas vezes dos anos 80 pra cá, mas ele veio mesmo somente uma vez, em 2010, quando tocou por diversas cidades brasileiras. Quando pintou a notícia de sua morte, o guitarrista tinha shows marcados para o mês de outubro pelo país.

Johnny Winter ao vivo em Memphis, 2012Tive a oportunidade de assistir Winter novamente ao vivo em 2012, no Beale Street Music Festival, em Memphis. Ele foi o headliner do “palco blues” do evento e foi recebido como um tesouro da música norte-americana, o que na minha opinião de fato ele é. Neste show. mostrou a destreza de sempre no slide (pra mim Winter, Duane Allman e Jesse Ed Davis são os melhores “não negros” neste quesito), com sua inseparável Firebird no colo. Apesar dos evidentes sinais da idade e da saúde abalada, conseguiu tocar uma música inteira de pé, quando eu tirei esta foto ao lado. Foi ali, na beira do Rio Mississipi, olhando para Winter e para as águas do Rio que percebi o quanto aquele sujeito pertencia a tradição do blues. Quando me aproximei do palco, vi que debaixo daquele chapéu estava um senhor tocando em perfeito estado de transe, com seus olhos quase “virados”, como se estivesse possuído por um velho bluesman.

“Para mim, o blues é uma necessidade”, alegou Winter, que apesar de flertar constantemente com o hard rock e o boogie, nunca abandonou sua verdadeira paixão. Um de seus maiores sonhos foi realizado ao produzir, tocar e trazer de volta ao cenário o seu grande ídolo, Muddy Waters, na segunda metade da década de 70.

A contracapa de Captured LiveMeu primeiro contato com os discos de Johnny Winter foi visual, babando naquela contracapa de Captured Live!. Aquele gigantesco estádio abarrotado, Winter e banda de costas encarando a multidão em plena luz do Sol… É o tipo de foto que resume uma era do rock de estádio norte-americano da década de 70.

Depois de horas no saudoso Museu do Disco olhando aquele álbum, tomei a decisão de comprar Live Johnny Winter And, que na época era um lançamento exclusivo do Museu, vendido lacradinho e a preço de banana. Na mesma leva de exclusividades do Museu do Disco, peguei o álbum de estreia de outro guitarrista texano da pesada, Stevie Ray Vaughan, um súdito de Winter, tão súdito que compartilhou até o mesmo baixista de Johnny: Tommy Shannon.

O próximo passo foi comprar a estreia dele, The Progressive Blues Experiment, na primeira loja de discos que trabalhei, a Garage Discos, na minha querida Pompeia. Ali pegava também as maiores boiadas, numa época onde o CD apareceu e estava em alta, com gente largando suas coleções de LPs literalmente no poste, para algum catador de lixo levar. Assim adquiri Second Winter, duplo e importado, com todo o charme dos três lados gravados e um em branco e aquele calibre da prensagem da Columbia, de selo vermelho e tudo mais.

Recentemente havia sido lançado um box de quatro CDs do guitarrista, True to the Blues: The Johnny Winter Story, que indiquei inclusive numa das últimas edições da pZ. Winter se foi, mas deixou um novo disco de estúdio terminado: Step Back, que sai mês que vem e conta com participações de bambas como Eric Clapton, Billy Gibbons, Joe Perry e outros.

Abaixo uma playlist com os meus sons favoritos do bom e velho Winter.

Bye Bye Johnny

A pZ homenageia Johnny Winter em sua nova edição, com um longo artigo especial contando toda a sua turbulenta trajetória e uma discografia selecionada comentada.

pZ 55

Johnny Winter, Armageddon, Robert Fripp, Paulo Bagunça e a Tropa Maldita, Link Wray, CSNY, Rock In Opposition, Doobie Brothers, Lucio Battisti, The Open Mind, Pretty Things, Strawberry Alarm Clock etc.

por Bento Araujo     31 jul 2014

JOHNNY WINTER
Calou-se a guitarra de Johnny Winter e com ela se foi um dos mais expressivos talentos do blues rock. A pZ celebra o legado do ícone texano relembrando sua turbulenta carreira dentro do rock e do blues. Da parceria com o irmão Edgar Winter e Muddy Waters até os tempos mais pesados de Johnny Winter And: os shows memoráveis, a repercussão na imprensa através dos anos e seus terríveis problemas com as drogas. Inclui também uma discografia selecionada comentada.

ARMAGEDDON
Em 1975, o surgimento de um supergrupo hard contando com ex-integrantes de bandas como The Yardbirds, Captain Beyond, Johnny Winter And, Renaissance e Steamhammer parecia realmente promissor. Na prática, a história foi diferente… Mas o que deu errado com o ARMAGEDDON? Por que a banda ficou somente num único disco? Talvez as respostas estejam neste texto…

ROBERT FRIPP (Entrevista – primeira parte)
Depois de um longo hiato, o King Crimson está de volta. Robert Fripp acordou sua criatura após uma hibernação de anos e se apresenta com a sua banda, por diversas noites, em Nova York, no próximo mês. Uma turnê pelo mundo deve ser anunciada em breve e parece que a América do Sul está nos planos de Mr. Fripp. Para celebrar essa volta, nos unimos ao jornalista norte-americano Steven Rosen, que entrevistou o “entrevistável” guitarrista em algumas ocasiões no decorrer dos anos. A mais completa, interessante e “difícil” dessas entrevistas aconteceu em 1974, quando o King Crimson estava lançando uma de suas obras definitivas: Red. Parte deste papo foi publicado na revista Guitar Player, há 40 anos, mas nesta edição você confere a primeira parte dessa histórica entrevista, publicada pela primeira vez na íntegra.

PAULO BAGUNÇA E A TROPA MALDITA
Uma bagunça podia ser mesmo o que acontecia no quartel general da Tropa Maldita, nos subúrbios cariocas do início da década de 70. Tempos depois, quando enfim a banda conseguiu lançar, pela Continental, o LP homônimo Paulo Bagunça e A Tropa Maldita, o que se pôde ouvir era uma música livre de rótulos e também livre na concepção. Em sua única e provavelmente limitada prensagem original, acabou ganhando status de raridade, e tornou-se um item de colecionador em nível mundial, alcançando valores compatíveis com algumas das maiores raridades nacionais.

ROCK IN OPPOSITION
Nos anos 70, o rock britânico e norte-americano impunha uma espécie de ditadura musical e cultural. No resto do mundo, muitas bandas viviam à marginalidade, cantando em sua língua e mantendo-se fiel às suas tradições. Essa resistência gerou uma oposição não só estética, mas também política. Sacando essa efervescência, os britânicos do Henry Cow deixaram a Inglaterra e partiram rumo à Europa Continental, onde conheceram inúmeras bandas vanguardistas. Em 1978, já no fim de sua trajetória, o Henry Cow convocou quatro bandas, de quatro países distintos, para um festival em Londres chamado Rock In Opposition (RIO). Após o evento e outros shows espalhados pela Europa, uma espécie de cooperativa foi criada. Novas bandas aderiram ao movimento, porém, mais adiante, o RIO enfraqueceu como organização. Já como fenômeno cultural e subgênero dentro do rock progressivo, continua atraindo seguidores e entusiastas mundo afora. Nesta edição você confere os dez discos essenciais para se aventurar pelo Rock In Opposition.

LINK WRAY
Como se dois grandes nomes das seis cordas não bastassem nesta edição (Winter e Fripp), o pZ Hero da vez é o mega influente Link Wray, simplesmente o pai da distorção no rock ‘n’ roll.

E MAIS:
CSNY, Doobie Brothers, Lucio Battisti, The Open Mind, Pretty Things, Strawberry Alarm Clock etc.

Dez vídeos de Johnny Winter que você tem que assistir

Nos despedimos do guitarrista que está na capa da nova pZ com o que de mais bacana existe dele no YouTube

por Bento Araujo     17 jul 2014

pZ55Dia 16 último, o mundo do rock e do blues perdeu um de seus grandes expoentes. Como todo sangue bom do blues, Johnny Winter morreu literalmente na estrada, em seu quarto de hotel, em Zurique, enquanto fazia sua enésima turnê europeia no auge de seus 70 anos de idade.

A pZ homenageia Winter em sua nova edição, com um longo artigo especial contando toda a sua turbulenta trajetória e uma discografia selecionada comentada. Veja mais sobre essa edição.

 

Abaixo, selecionamos os melhores momentos de Johnny Winter no Youtube, para acompanhar a leitura da sua nova pZ:

1 – “Mean Town Blues” (1969)
Mesmo em início de carreira, Winter já demonstrava total confiança e habilidade com seu instrumento. Essa sua aparição em Woodstock (que ficou de fora do filme original) mostra um artista no auge da garra e da vontade de aparecer para o mundo.

2 – Live in Copenhagen (1970)
A gravação de melhor qualidade em vídeo do trio original de Winter em ação, com Uncle John Turner na bateria e Tommy Shannon no contrabaixo. Inclui canja de Edgar Winter.

3 – “Johnny B. Good” (1970)
Em 1970 ele chegou arrasando em Londres com seu trio acrescido da ilustre presença do irmão Edgar Winter. Estusiasta do rock dos anos 50, fazia questão de apresentar ao vivo esse clássico imortalizado por Chuck Berry.

4 – “Guess I’ll Go Away” (1970)
Sua banda “And”, com Rick Derringer também na guitarra, marcou uma das fases mais pesadas de sua carreira e rendeu dois grandes discos, um de estúdio e outro ao vivo. Essa apresentação registrada pela TV francesa mostra o vigor daquela formação ao vivo.

5 – Live At Tubeworks, Detroit (1971)
Johnny e seu parceiro (e baixista de sua banda) Randy Joe Hobbs ao vivo, num programa de TV, tocando e sendo entrevistados. Vale por mostrar o guitarrista de um perfil mais intimista. Destaque para sua atução na inseparável Firebird, com pouca distorção e volume.

6 – “Jumpin’ Jack Flash” (1974)
Grande fã de Stones, executou diversos clássicos da banda de Jagger & Richards em sua carreira, tanto em estúdio como ao vivo. A mais emblemática delas era a sua releitura para este clássico, que ocasionalmente encerrava as suas apresentações. Essa versão é ao vivo no programa da TV britânica The Old Grey Whistle Test.

7 – Live on Don Kirshner’s Rock Concert (1974)
Sua aparição no legendário programa da TV americana marcou época, principalmente por ter sido exibido também no Brasil pela Rede Globo, um pouco depois, em seu programa Sábado Som.
http://youtu.be/9srJIjp55Bs

8 – Muddy Waters – Live At The Chicago Fest (1981)
O guitarrista marca presença em boa parte desse show de Waters em Chicago, subindo ao palco com um cajado e uma Les Paul.

9 – Live at Massey Hall, Toronto (1983)
No início dos anos 80 o guitarrista reformulou sua banda de apoio, apostando num som mais pesado e enxuto. Neste trio estavam John Paris no baixo e Bobby T. Torello na bateria.

10 – “Highway 61 Revisited”, Brasil (2010)
Em 2010 Winter passou pela única vez pelo Brasil. Tocou em diversas cidades e fez essa aparição relâmpago no programa de Jô Soares.
http://youtu.be/22hYaK63ELk

Bonus Track:
“I Just Wanna Make Love To You” (1978)
Não é sempre que se vê por aí uma jam organizada pelo pessoal do Foghat com Johnny Winter, Muddy Waters, John Lee Hooker, Otis Blackwell, Eddie “Bluesman” Kirkland, Dave “Honeyboy” Edwards e outros. A grande maioria dos músicos que estão neste vídeo já morreu…

 

pZ 30

ZZ Top, Johnny Winter, Southern Rock, Alex Chilton, Lynyrd Skynyrd, Blackfoot, Josefus, 13th Floor Elevators, Moving Sidewalks, Jazz Fest etc.

por Bento Araujo     11 jul 2014

ZZ TOP
A pZ passa a limpo a época dourada do trio texano, quando eles lançaram o álbum Tres Hombres, em 1973.

JOHNNY WINTER
Uma geral no início da carreira fonográfica do guitarrista, quando lançou seus dois primeiros álbuns, em 1969.

NEW ORLEANS JAZZ & HERITAGE FESTIVAL
A pZ foi até New Orleans conferir o Jazz Fest e trouxe na bagagem resenhas de shows fantásticos de Allman Brothers Band, Jeff Beck, Gov’t Mule, Black Crowes, Levon Helm, Van Morrison, Simon & Garfunkel e muitos outros. Confira o diário completo de nossa viagem e fotos inéditas e exclusivas da primeira aventura de nossa pZ Trips.

MANUAL DA PSICODELIA TEXANA
Apresentando: 13th Floor Elevators, Josefus, Cold Sun, Fever Tree, Bubble Puppy, The Moving Sidewalks, Zakary Thaks e muitos outros. Se você pensa que psicodelia americana é só São Francisco, se prepare para mudar de opinião.

20 HINOS DO SOUTHERN ROCK
Escolhidos por você, com sons inesquecíveis de Lynyrd Skynyrd, Allman Brothers, The Outlaws, Blackfoot, Marshall Tucker Band, Little Feat, Down etc.

ALEX CHILTON
Nosso pZ Hero dessa edição é o ex-Big Star e Box Tops, verdadeira lenda do rock de Memphis.

poeiraCast 123 – Os mestres da slide guitar
por Bento Araujo     03 out 2012
poeiraCast 31 – Johnny Winter
por Bento Araujo     24 mar 2010