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Relembrando Dickie Peterson (Blue Cheer)

“Não havia ninguém fazendo o que a gente fazia. Estávamos expressando a raiva e a injúria, o Vietnã, e tudo mais o que acontecia naqueles tempos”

por Bento Araujo     13 mar 2015

Dickie_Peterson“Não havia ninguém fazendo o que a gente fazia. Estávamos expressando a raiva e a injúria, o Vietnã, e tudo mais o que acontecia naqueles tempos.” O líder do Blue Cheer, Richard Allan “Dickie” Peterson, tinha razão. Hoje existem milhares de clones de sua banda, os avós do stoner rock, porém, nos anos 60, não existia nada sequer parecido com aquela banda lisérgica de São Francisco.

Em 1967 o Blue Cheer era a antítese das bandas hippies mais famosas da cidade. O Blue Cheer foi o primeiro grupo americano a utilizar paredes de amplificadores Marshall, e o volume dos caras no palco era arrasador. A partir de 1968, boatos começaram a rolar pelo país, dando conta de que membros da plateia chegavam até a vomitar e desmaiar devido ao abusivo volume e distorção vindo do palco.

Peterson começou tocando bateria e aos oito anos de idade já sabia que queria viver de rock n’ roll. Começou a tocar baixo por insistência do irmão mais velho, Jerre Peterson, que era guitarrista e sua principal influência musical.

Dickie Peterson fundou o Blue Cheer em 1966, e no início, o grupo era um quinteto. Após assistir a apresentação do Jimi Hendrix Experience no Monterey Pop Festival, no ano seguinte, Peterson resolveu que sua banda deveria ser um power trio, assim como o de Hendrix. Ao seu lado ficaram Leigh Stephens na guitarra e o demolidor Paul Whaley na bateria.

Em 1968 o trio lançou aquele que é considerado por alguns como o primeiro álbum de heavy metal da história, Vincebus Eruptum, que trazia como abertura uma releitura visceral para o hit Summertime Blues, de Eddie Cochran, repleta de fuzz e peso. Bastou para colocar o Blue Cheer como expoente supremo do que mais existia de pesado e ultrajante na época. As demais bandas de São Francisco faziam pouco deles, alegando que não sabiam tocar e que só faziam barulho, mas nada disso importava, já que Dickie e seus comparsas estavam na verdade gerando um novo estilo não só de música, mas de vida, repleto de muito barulho, festas, Hell Angels e drogas pesadas. Jim Morrison chegou a declarar publicamente que o Blue Cheer era simplesmente a banda mais poderosa que ele já havia assistido ao vivo.

Com o sucesso imediato, logo no início de carreira, surgiram também diversos problemas. Só se apresentavam sob efeito de LSD, e quando lançaram seu segundo trabalho, Outsideinside, Dickie já estava completamente viciado e praticamente surdo de um ouvido, assim como os demais integrantes do grupo, que lançou mais quatro álbuns até se separar, em 1971, com Peterson completamente acabado pelo vício de heroína e álcool.

Peterson passou anos tentando reativar o seu Blue Cheer, mas só conseguiu 13 anos depois, em 1984, quando foram contratados pela Megaforce Records, que lançou The Beast Is Back. A explosão do thrash e speed metal foi de importância crucial para o Blue Cheer, considerados os pais do rock pesado por toda a nova geração de headbangers pelo mundo todo. Em 1990, mais um renascimento, agora via a cena grunge de Seattle e com o álbum Highlights And Lowlives, produzido por Jack Endino, produtor do Nirvana. No ano seguinte, outro disco, Dining With The Sharks.

Dickie passou então a viver na Alemanha e parou de beber e usar drogas. Gravou dois álbuns solo que foram apenas lançados no Japão, Child Of The Darkness e Tramp e também tocou em diversos outros projetos, como Hank Davison Band e Mother Ocean.

O último trabalho do Blue Cheer surgiu em 2007, What Doesn’t Kill You…, uma volta ao peso e a fúria de antigamente, que serviu também para colocar o grupo novamente na estrada pelos EUA e Europa. A repercussão no cenário foi tão surpreendente que Peterson passou a trabalhar numa autobiografia, chamada Ain’t No Cure.

Infelizmente essa biografia não foi finalizada, pois Dickie Peterson morreu em 2009, vítima de um câncer que começou em sua próstata. Sua morte repentina chocou o mundo do rock, já que o baixista havia optado por combater a doença em segredo. Só seus amigos mais próximos sabiam que ele estava com câncer. A imprensa sequer desconfiava…

Peterson costumava dizer que seu Blue Cheer era “Louder Than God”, ou seja, “mais barulhento que Deus”. Será que ele já conseguiu comprovar essa sua teoria?

pZ 28

Humble Pie, Ten Years After, Ave Sangria, Bob Dylan, John Cipollina, Trettioariga Kriget, Blue Cheer etc.

por Bento Araujo     11 jul 2014

Humble Pie
12 páginas sobre a lendária banda de Steve Marriott, Peter Frampton, Greg Ridley e Jerry Shirley. Biografia completa, discografia comentada, etc.

Leo Lyons (Ten Years After)
Entrevista exclusiva com o lendário baixista do Ten Years After, onde ele respondeu as perguntas dos leitores da pZ!

Ave Sangria
A trajetória dos heróis do Glam Rock do cangaço! Inclui depoimentos exclusivos do vocalista Marco Polo Guimarães.

John Cipollina
A emocionante saga do líder do Quicksilver Messenger Service e o dono da guitarra mais ácida da cena de São Francisco…

Trettioariga Kriget
Os mestres do rock progressivo sueco…E mais uma entrevista com Stefan Fredin!

Bob Dylan
E a curiosa epopéia do primeiro disco pirata da história do rock, The Great White Wonder…

Mundo Bolha: The Sensational Alex Harvey Band, Marvin Gaye, The Standells, Hank Williams, A Bolha, The Stooges, Roger Waters e uma homenagem a Dickie Peterson (Blue Cheer)

Capas Históricas: The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (David Bowie)

Pérola Escondida: Judy Henske & Jerry Yester

Have a Nice Day: “Dirty Water” (The Standells) & “Wildflower” (Skylark)

Quem se Foi: Dickie Peterson, Norton Buffalo, Maurice Jones, Paul Lagos, etc.