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The Beau Brummels: Bradley’s Barn

Com um álbum essencialmente norte-americano, a banda de São Francisco passou de uma simples resposta local à British Invasion para um bastião da música pop local

por Bento Araujo     08 set 2014

Beau Brummels-Bradleys BarnCom um álbum essencialmente norte-americano, a banda de São Francisco passou de uma simples resposta local à British Invasion para um bastião da música pop local, principalmente graças à teimosia de dois sujeitos: Sal Valentino e Ron Elliott.

O britânico Jon Savage, rock journo e autor de vários livros e ensaios sobre o assunto, tem uma visão bem particular e interessante sobre o rock dos anos 60. Segundo ele, foi em 1967 que a tocha do rock foi devolvida aos EUA pelos ingleses, da Swinging London diretamente para a Haight-Ashbury. Sendo assim, foi no ano seguinte que jovens compositores norte-americanos começaram honrar a posse da tocha, explorando profundamente o rico patrimônio musical de seu país. Naquele ano, surgiram discos como Sweetheart of the Rodeo (The Byrds), John Wesley Harding (Dylan), Music From Big Pink (The Band, originalmente formada no Canadá, mas o baterista/vocalista Levon Helm nasceu no Arkansas) e The Fantastic Expedition of Dillard & Clark (do duo Gene Clark e Doug Dillard); todos compartilhando um mesmo anseio: resgatar a raiz da música norte-americana, especificamente aquela que vinha de Nashville. Até os Everly Brothers entraram na onda, lançado naquele ano o apropriado Roots.

Grupos de San Francisco como Grateful Dead, Moby Grape, Quicksilver Messenger Service e, principalmente, The Charlatans, lançaram exemplos clássicos da bem sucedida fusão da música country de raiz com a psicodelia. Mas talvez quem melhor fez isso foi o Beau Brummels em seu Bradley´s Barn, lançado em, claro, 1968.

Sal Valentino (vocal) e Ron Elliott (guitarra) eram os líderes do conjunto, formado em 1964 com o intuito de jogar no caldeirão Beatles, folk, country e música beat no geral. Reza a lenda que o nome do grupo foi escolhido para que seus discos ficassem próximos aos dos Beatles nas prateleiras das lojas, afinal de contas ambos começavam com as iniciais “bea”. Mas Sal Valentino, cujo verdadeiro nome é Salvatore Spampinato, tratou de desmitificar essa lenda em entrevistas que concedeu através dos anos.

Depois de serem produzidos por um transado DJ local chamado Sly Stone, o Beau Brummels lançou o compacto “Laugh, Laugh”, exemplo pioneiro dos fundamentos estéticos e sonoros do som de San Francisco. Introducing the Beau Brummels (1965), The Beau Brummels Volume 2 (1965) e Beau Brummels ‘66 (1966) foram os três primeiros LPs que colocaram o grupo não só nas paradas, mas também em filmes (Wild Wild Winter) e até em desenhos (The Flintstones).

Foi somente no quarto álbum, Triangle (1967) que o Beau Brummels amadureceu, graças principalmente ao fato de passar a apostar em material autoral ao invés das covers de antigamente. A produção de Lenny Waronker e a contribuição musical de Van Dyke Parks também colaboraram para o crescimento criativo do grupo.

Sofrendo de diabetes, Ron Elliott foi obrigado a dar uma de Brian Wilson e abandonar as apresentações ao vivo. O próximo e natural passo seria se concentrar nas composições e na produção em estúdio. Perdendo público para os Byrds e integrantes para o serviço militar norte-americano (na época entretido com o Vietnã), sobrou apenas a fiel dupla Valentino e Elliott no Brummels, ambos dividindo uma mesma visão, a de criar em estúdio um compilado definitivo de novas canções que funcionassem como a trilha sonora definitiva de toda aquela imensidão do território norte-americano.

Foi assim que a dupla Valentino-Elliott se mandou para Nashville sob a batuta do produtor Lenny Waronker, visando gravar seu próximo disco com a nata dos músicos de estúdio da cidade.

Com um estilo de vida frenético e, digamos, mais avançado e moderno, Valentino e Elliott acabaram introduzindo muitos músicos de Nashville à maconha e outras drogas ainda não populares no estado do Tennessee, pelo menos não como na Califórnia. Alguns desses músicos eram Jerry Reed e Kenneth A. Buttrey, veteranos das sessões de Bob Dylan na cidade.

Inspirado por Hank Williams, Sal Valentino mostrou uma interpretação irretocável em Bradley’s Barn, que recebeu esse nome estritamente em homenagem ao estúdio onde gravaram o disco. Apenas 11 canções pintaram no álbum, mas cerca de 20 foram compostas para o projeto, o que endossa ainda mais a certeza de que nenhuma canção serve de tapa buraco. A vocalização infestada e assombrada de Valentino inclusive o rendeu uma fama em muitos círculos da indústria fonográfica. Ele transformava qualquer música com o som de sua voz. Não é à toa que depois gravaria as guias vocais do primeiro disco de Randy Newman, que acabou cantando por cima. A conexão com Newman ia além, já que Bradley’s Barn encerrava com uma canção de sua autoria: “Bless You California”.

Considerado o primeiro rockstar de Frisco, Valentino tinha um segredo: transformar toda canção triste num foxtrot, receita infalível que ele aprendeu ouvindo Hank Williams: “Dessa forma, toda canção impiedosa e ameaçadora acabava sendo recebida de forma não tão austera”.

O conteúdo de Bradley’s Barn impressionou tanto o ramo musical da época que seu produtor, Lenny Waronker, passou a produzir diversos álbuns na sequência, lançados por artistas como Harpers Bizarre, Randy Newman, Van Dyke Parks, Tom Northcott e Everly Brothers, que até regravaram “Turn Around”, a primeira faixa de Bradley’s Barn, em seu disco Roots, que também trazia Ron Elliott como arranjador.

Bradley’s Barn não vendeu nada e acabou sendo um sucesso somente dentro do seleto ramo artístico. O fiasco comercial acabou impulsionando o encerramento prematuro das atividades do grupo, que voltaria para mais um álbum somente em 1975, The Beau Brummels, onde até o guitarrista Ronnie Montrose aparecia solando numa faixa (“Down To The Bottom”).

Antes disso, Valentino havia continuado como artista solo e também como homem de frente do Stoneground, que lançou três álbuns pela Warner entre os anos 1971-1973. Em 2006, ele lançou seu primeiro álbum solo, Dreamin’ Man, seguido por Come Out Tonight (do mesmo ano) e Every Now and Then (2008).

Em 2011 a Rhino Homemade lançou a versão definitiva (pelo menos até agora) de Bradley’s Barn, expandido em dois CDs, incluindo muitas faixas bônus e um acabamento luxuoso.

Sal Valentino continua na ativa, aos 71 anos, mas gosta de ressaltar que Bradley’s Barn foi o ponto alto de sua longa carreia, como declarou à revista Mojo em 2005: “É puro, é honesto, é verdadeiro”.

Texto originalmente publicado na pZ 54.

http://youtu.be/-eceSGU59zE

pZ 54

Lucifer’s Friend, Don Brewer (Grand Funk Railroad), Robert Wyatt, Beau Brummels, Rush, Status Quo, Wilko Johnson, Bango etc.

por Bento Araujo     12 jul 2014

LUCIFER’S FRIEND
Janeiro de 1971. Uma nova década estava começando, assim como um novo gênero musical. Para um grupo de jovens alemães e um poderoso vocalista que vinha da Inglaterra, aquilo foi a matéria prima crucial. Assim nasceu o Lucifer’s Friend, que graças a sua sonoridade, seu nome de batismo e à capa de seu primeiro disco, entrou para a história como um dos pioneiros do som pesado. Inclui batepapo exclusivo com John Lawton e discografia comentada.

DON BREWER (GRAND FUNK RAILROAD)
Ele foi um dos grandes bateristas dos anos 70, além de voz principal em grandes clássicos do Grand Funk Railroad como “We’re An American Band”, “Shinin’ On” e “Walk Like a Man”. Don Brewer falou por cerca de meia hora com a pZ, diretamente de sua casa em West Palm Beach, Flórida. Totalmente à vontade, relembrou fatos marcantes de sua longa carreira.

RUSH
Sem arranjos complexos e temas fantásticos, a estreia do trio canadense é pura explosão hard rock que completa 40 anos de idade. Tudo sobre o álbum de estreia de Geddy Lee, Alex Lifeson e John Rutsey, além de comentários faixa a faixa do disco.

STATUS QUO + WILKO JOHNSON AO VIVO EM LONDRES
A poeira Zine cobriu para esta edição, com total exclusividade, duas apresentações do Status Quo com a abertura de Wilko Johnson, no Hammersmith Odeon, em Londres.

BEAU BRUMMELS
Com um álbum essencialmente norte-americano, a banda de San Francisco passou de uma simples resposta local à British Invasion para um bastião da música pop local, principalmente graças à teimosia de dois sujeitos: Sal Valentino e Ron Elliott.

OS CANIBAIS / BANGO
Nesta edição a pZ celebra o legado dessas duas grandes bandas brasileiras. Dos primórdios da Jovem Guarda ao rock psicodélico. Inclui depoimentos de Aramis Barros, mentor e fundador de ambos os grupos.

ROBERT WYATT
Ele foi fundador do Wilde Flowers e depois integrou o Soft Machine, se tornando um dos pilares do som de Canterbury. Sua longa e expressiva carreira solo o transformou numa celebrada instituição da música britânica e sua integridade artística parece não ter fim.

E MAIS:
The Rising Storm, The Rockets, Jeff Beck, Neil Young, Looking Glass, Patrulha do Espaço, Dr. Dopo Jam, Ticket, Ptarmigan, Silver Mammoth, os templos sagrados do rock, Irmandade do Blues etc.