Arquivo da tag: ave sangria

poeiraCast 494 – Grandes duplas de guitarristas do rock

Este é o mês em que comemoramos 15 anos de poeiraCast! Para celebrar, uma lista com esse número, Mais

por Bento Araujo     03 abr 2024

Este é o mês em que comemoramos 15 anos de poeiraCast! Para celebrar, uma lista com esse número, e o assunto escolhido foi esse, que ainda não tínhamos abordado. Com certeza vai faltar a dupla preferida de alguém, mas aí estão 15 grandes duplas de guitarristas do rock, comentadas uma a uma.

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poeiraCast 420 – A música psicodélica pernambucana

Um movimento musical que ocorreu principalmente na década de 70, com trabalhos que vêm sendo resgatados há anos, Mais

por Bento Araujo     03 jul 2019

Um movimento musical que ocorreu principalmente na década de 70, com trabalhos que vêm sendo resgatados há anos, a música psicodélica pernambucana é o assunto desta semana no poeiraCast!

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poeiraCast 404 – Guitarristas Brasileiros

Alguns dos grandes guitarristas brasileiros são comentados por estes “não guitarristas” que fazem o poeiraCast. Ou seja, é Mais

por Bento Araujo     13 mar 2019

Alguns dos grandes guitarristas brasileiros são comentados por estes “não guitarristas” que fazem o poeiraCast. Ou seja, é claro que nosso critério nem poderia ser técnico. Enfim, alguns dos nossos preferidos estão neste episódio.

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Agradecimentos especiais aos apoiadores: Caio Bezarias, Carlos Albornoz, Claudio Rosenberg, Felipe de Paula, Flavio Bahiana, Lindonil Reis, Luis André Araujo, Luis Kalil, Luiz Paulo Jr., Marcio Abbes, Marcos Cruz, Mauricio Pires, Pedro Furtado Jr., Rodrigo Lucas, Rossini Santiago Wilson Rodrigues e Zozimo Fernandes.

Ave Sangria ao vivo em São Paulo

Lendário grupo pernambucano dos anos 70 toca esta próxima sexta-feira no Sesc Belenzinho

por Radames Junqueira     14 out 2014

ave sangriaDepois da excelente repercussão da única apresentação no Recife, no mês passado, a Ave Sangria voa rumo ao Sul para se apresentar no Sesc Belenzinho, em São Paulo, nesta próxima sexta (17). O show marca o lançamento na capital paulista do disco Perfumes y Baratchos, gravado ao vivo no Teatro Santa Isabel (Recife), em 1974.

Lembrando que será a primeira vez que o grupo tocará em São Paulo com quatro integrantes originais: Marco Polo (Voz), Ivinho (Guitarra), Paulo Rafael (Viola e Guitarra) e Almir de Oliveira (Violão e Voz), acompanhados ainda de Juliano Holanda (Baixo), Junior do Jarro (Bateria), Gilú Amaral (Percussão) e com a participação especial de Zé da Flauta (Flauta).

Mais informações no http://www.sescsp.org.br/programacao/44980_AVE+SANGRIA

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Steely Dan, Jane, Marshall Tucker Band, Khan, Moto Perpétuo, John Entwistle, Robert Fripp, Lô Borges, John Mayall etc.

por Bento Araujo     02 out 2014

Steely Dan
Um combo jazz transvestido de banda de rock em seu início, com o máximo de sofisticação que o gênero poderia alcançar. Talvez seja essa uma das definições do projeto musical de Donald Fagen e Walter Becker. Os estúdios de gravação passaram a ser verdadeiros templos, onde Fagen e Becker registravam seus rituais sonoros e repensavam o seu conceito de perfecionismo. Assim, contratavam os melhores músicos de estúdio dos EUA para colocarem em prática a música que ouviam em suas mentes. Com a década de 70 avançando e a auto-indulgência da excêntrica dupla aumentando cada vez mais, chegou um ponto onde míseros seres humanos não mais podiam executar aquelas músicas com a necessária competência. Nesta edição tudo sobre os “perfeitos anti-herois musicais dos anos 70”, como a Rolling Stone categorizou a dupla. Inclui discografia comentada.

Jane
A trajetória dos alemães do Jane, banda subestimada, talvez por ficar à margem do chamado Krautrock, com seu som mais melódico e menos minimalista. Este especial traz uma discografia selecionada comentada e contextualiza a banda na cena brasileira dos anos 70, já que alguns de seus trabalhos foram lançados em vinil por aqui.

The Marshall Tucker Band
Tragédias, grandes discos e muita curtição fizeram parte da trajetória do Marshall Tucker Band, uma banda que vendeu milhares de discos nos anos 70, mas que hoje anda completamente esquecida, até mesmo por aqueles que apreciam o rock feito no sul dos Estados Unidos.

Khan
Steve Hillage e Dave Stewart fizeram parte do Khan, que lançou um único álbum em 1972, um típico exemplo de blues rock espacial cunhado dentro do celeiro canterburiano.

Moto Perpétuo
Há 40 anos surgiu em São Paulo o Moto Perpétuo, grupo revelação que era a aposta do empresário Moracy do Val, então arrasado com o fim precoce de seus principais contratados: Secos & Molhados. O Moto sempre ficou marcado por ter revelado ao mundo pop o seu vocalista/tecladista/compositor, Guilherme Arantes, mas a banda foi muito mais do que isso, como comprova este texto.

John Entwistle
A influência do baixista do The Who no rock é inestimável. Desde meados dos anos 1960, ele assombrou ouvintes e espectadores do mundo todo com um conceito novo no rock. Solando como em “My Generation” ou enriquecendo as harmonias, John Entwistle foi, nas palavras de Bill Wyman, “o mais quieto na vida particular e o mais barulhento no palco”.

Robert Fripp (entrevista, segunda e última parte)
Depois de um longo hiato, o King Crimson está de volta. Para celebrar essa volta, nos unimos ao jornalista norte-americano Steven Rosen, que entrevistou o “entrevistável” guitarrista em algumas ocasiões no decorrer dos anos. A mais completa, interessante e “difícil” dessas entrevistas aconteceu em 1974, quando o King Crimson estava lançando uma de suas obras definitivas: Red. Parte deste papo foi publicado na revista Guitar Player, há 40 anos, mas nesta edição você confere a segunda e última parte dessa histórica entrevista, publicada pela primeira vez na íntegra.

Jazz-rock sueco dos anos 70
Na Suécia a onda fusion impulsionou uma série de discos interessantes. Escolhemos dez deles neste mini-especial, servindo de guia para o seu mergulho inicial dentro do jazz-rock sueco dos anos 70. Estrelando: Solar Plexus, Made In Sweden, Wasa Express, Archimedes Badkar, Kornet, Lotus etc.

John Mayall (entrevista)
A lenda do blues britânico atendeu a pZ para um papo telefônico e o resultado você confere também nesta edição.

E mais:
Lô Borges, Neil Christian, Ave Sangria, The Freak Scene, Poe, Kalacakra, Merchants of Dream, Dogman, Bombay Groovy, Jimi Jamison, Thee Image, James Brown etc.

O novo e ainda rasante voo da Ave Sangria

Única apresentação no Recife teve doses extras de tensão e emoção

por Bento Araujo     10 set 2014

Ave Sangria - Recife 2014

Marco Polo, Almir de Oliveira, Ivinho e Paulo Rafael. Quatro integrantes originais da Ave Sangria reunidos pela primeira vez num palco, 40 anos depois. E não era qualquer palco, era o Teatro de Santa Isabel, um dos mais belos de todo o Brasil, local inclusive onde a Ave fez seu derradeiro voo em 1974, com o show Perfumes Y Baratchos.

O álbum duplo, trazendo o show Perfumes Y Baratchos na íntegra, foi oficialmente lançado pela primeira vez em disco na data desta nova apresentação, junto do relançamento do elepê Ave Sangria, original de 1974. Havia muita coisa acontecendo naquela noite quente de inverno do Recife.

A euforia foi grande. Todos os bilhetes se esgotaram em menos de 24 horas. O numeroso burburinho do lado de fora do teatro dava indícios que pelo menos mais uma noite extra teria sido também um sucesso de público.

O início da apresentação foi emblemático. As cortinas se abriram e lá estava a Ave, acompanhada de outros quatro músicos (Zé da Flauta, Dujarro, Gilú e Juliano Holanda), todos excepcionais, nitidamente empolgados com aquela ocasião histórica.

A introdução acabou sendo mais longa que o esperado. Enquanto os músicos abriam o volume de seus instrumentos num envolvente tema instrumental de abertura, o som da guitarra de Ivinho havia subitamente desaparecido. Nada saía de seus amplificadores. Um roadie veio ao palco e ficou tentando resolver o problema, mas nada acontecia. Ivinho foi ficando furioso e a decolagem parecia comprometida, uma das asas da Ave Sangria parecia avariada.

Quando tudo parecia perdido os deuses da guitarra colaboraram e a guitarra de Ivinho começou a rugir. Visivelmente irritado ele abriu o tremendo volume de sua guitarra e por muito pouco o luxuoso lustre do teatro não veio abaixo. Pela resposta da extasiada plateia, tudo levava a crer que aquela noite seria de Ivinho.

O show começou então alternando tensão e emoção, apresentando temas do disco homônimo de estúdio, algumas inéditas do show Perfumes Y Baratchos e outras surpresas. “Lá Fora”, “Por que?”, “Janeiro” e “Hei! Man” foram as primeiras da noite. Do falecido baterista Israel Semente o grupo tocou “Boi Ruache (Vento Vem)”, com uma pegada latina no melhor estilo Santana e as guitarras de Ivinho e Paulo Rafael tomando caminhos interessantíssimos. Se Ivinho era a mais pura violência e explosão, Paulinho era o contraponto necessário, com muito bom gosto nas bases, intervenções acústicas cruciais e um timbre impecável de Les Paul.

Quando a banda deu início a “Dois Navegantes” e Almir assumiu o vocal, o teatro cantou mais alto que nunca. Marco Polo relembrava algumas de suas letras, postadas num pedestal, mas toda a plateia estava com ele, cantando cada uma das canções.

A maioria do público consistia numa garotada que nem era nascida quando a banda atuou, na primeira metade dos anos 70, mas pontuando a noite de gala estavam também presentes boa parte daqueles amigos e comparsas que fomentaram os voos iniciais da Ave, como Rafles Oliveira, Maristone e Tiago Amorim.

Ivinho não deixou barato, e como as centenas de estrelas de sua camisa, voltou a brilhar imensamente em seu tema instrumental “Sob o Sol de Satã”. Sorria como um garoto, dançava pelo palco, levantava suas calças em pleno ato de molecagem e tocava em comunhão quase telepática com o jovem baterista Dujarro, que caiu como uma luva nessa nova versão do grupo. Ivinho foi aplaudido de pé e o teatro Santa Isabel gritava seu nome em uníssono. Se no Beco do Barato e no udigrudi pernambucano Ivinho sempre foi um guitar hero, na porção mais Sul do Brasil o seu nome ainda aguarda o merecido reconhecimento. Além de ter sido o primeiro músico brasileiro a pisar no palco do Festival de Jazz de Montreaux, Ivinho pode ser colocado ao lado dos grandes da guitarra brasileira como Lanny, Pepeu e Armandinho.

“Geórgia, A Carniceira”, a mais pesada composição da banda, foi a derradeira da noite. Começou com um arranjo diferente, mais lenta e melódica, até explodir num rock bruto cativante. Nessa altura a garotada já estava toda de pé, na frente do palco, pulando e cantando enquanto Marco Polo metaforicamente e efusivamente abraçava a todos com sua visível gratidão e sua poesia nada marginal.

Passaram-se 40 anos, mas a Ave Sangria ainda voa, ainda sangra. Salve Ivinho, salve os navegantes.

Agradecimentos especiais a Marco da Lata e Cris Rás da Ripohlandya, que além de organizarem essa apresentação e os relançamentos dos discos, convidaram a pZ para cobrir esse show da Ave Sangria no Recife.


Ave Sangria em alta

Selo pernambucano relança clássicos da banda e reúne o grupo para show comemorativo

por Radames Junqueira     31 jul 2014

pzarquivoverdeamarelo-ave-sangria1Recife se prepara para presenciar uma noite histórica. Acontece no dia 2 de setembro, no belíssimo Teatro de Santa Isabel, uma apresentação da Ave Sangria, banda que inovou na mistura de rock psicodélico e ritmos tradicionais nordestinos. Foi no mesmo palco do Teatro que o grupo tocou pela última vez, há 40 anos. Quem está por trás deste evento é o selo pernambucano Ripohlandya (capitaneado pelo pessoal do Anjo Gabriel), em iniciativa apoiada pelo Governo do Estado de Pernambuco.

O selo também está lançando dois discos da Ave Sangria. O primeiro deles é a reedição do único e homônimo álbum de estúdio da banda, lançado em 1974, que agora surge em versão capa dupla, vinil de 180 gramas, ou CD digipack. O áudio foi restaurado e masterizado a partir de uma cópia do disco original da época. Ave Sangria faz parte do mesmo clube de outros álbuns clássicos da psicodelia nordestina cultuados no mundo todo, como Paêbirú, de Zé Ramalho e Lula Côrtes, No Sub Reino dos Metazoários, de Marconi Notaro e Satwa, de Lula Côrtes e Lailson.

Ainda em 1974, a banda fez uma de suas melhores apresentações com o show Perfumes Y Baratchos. O público que foi ao Santa Isabel não sabia, mas teve o privilégio de assistir ao último show da Ave Sangria. O áudio do show foi registrado em rolo e 40 anos depois se transforma em vinil e CD, com capa reproduzindo o cartaz original do evento, de autoria de Laílson Holanda.

O novo show contará com quatro integrantes originais do conjunto. A cobertura completa do evento você confere, com exclusividade, na próxima edição da poeira Zine.

Serviço: Ave Sangria no Teatro De Santa Isabel (Praça da República s/n – Recife/PE)
Data: 2 de setembro
Horário: 20h

pZ 28

Humble Pie, Ten Years After, Ave Sangria, Bob Dylan, John Cipollina, Trettioariga Kriget, Blue Cheer etc.

por Bento Araujo     11 jul 2014

Humble Pie
12 páginas sobre a lendária banda de Steve Marriott, Peter Frampton, Greg Ridley e Jerry Shirley. Biografia completa, discografia comentada, etc.

Leo Lyons (Ten Years After)
Entrevista exclusiva com o lendário baixista do Ten Years After, onde ele respondeu as perguntas dos leitores da pZ!

Ave Sangria
A trajetória dos heróis do Glam Rock do cangaço! Inclui depoimentos exclusivos do vocalista Marco Polo Guimarães.

John Cipollina
A emocionante saga do líder do Quicksilver Messenger Service e o dono da guitarra mais ácida da cena de São Francisco…

Trettioariga Kriget
Os mestres do rock progressivo sueco…E mais uma entrevista com Stefan Fredin!

Bob Dylan
E a curiosa epopéia do primeiro disco pirata da história do rock, The Great White Wonder…

Mundo Bolha: The Sensational Alex Harvey Band, Marvin Gaye, The Standells, Hank Williams, A Bolha, The Stooges, Roger Waters e uma homenagem a Dickie Peterson (Blue Cheer)

Capas Históricas: The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (David Bowie)

Pérola Escondida: Judy Henske & Jerry Yester

Have a Nice Day: “Dirty Water” (The Standells) & “Wildflower” (Skylark)

Quem se Foi: Dickie Peterson, Norton Buffalo, Maurice Jones, Paul Lagos, etc.

As estripulias da Ave Sangria

A trajetória de um dos grandes nomes da psicodelia folk nordestina dos anos 70

por Bento Araujo     30 abr 2013

ave sangria

Em 1964, se os Rolling Stones tinham em Mick Jagger, Keith Richards, Brian Jones, Charlie Watts e Bill Wyman seu núcleo explosivo, 10 anos depois o rastilho dessa pólvora estava impregnado na arte de um grupo brasileiro. Não, não estamos sobre os fantasmas do cangaço, muito menos dos militares, e sim de um bando não menos ameaçador – mas em outro contexto, claro. Com vocês o Ave Sangria, os “Stones do Nordeste”.

A Vila dos Loucos e as viagens de Marco Polo

Para começar a abordar a história d´Ave, tem-se de fazer uma trip ao “sombrio” bairro Tamarineira, localizado em Recife (PE). Se nos dias atuais, a região já é conhecida como sinônimo de loucura – no sentido literal do termo -, em função do famoso hospital psiquiátrico que leva o nome do território, imagine no começo dos anos 70, quando o grupo Tamarineira Village foi formado.

Essa primeira formação ganhou corpo com a entrada do ex-acadêmico de direito, poeta e jornalista recifense Marco Polo Guimarães, que largou o ofício do quarto poder em São Paulo para trabalhar com artesanato em Ipanema, no Rio de Janeiro, e pouco tempo depois estava de volta a sua terra natal. Lá, o artista hippie entrou de cabeça na efervescência musical da região – onde tocavam grupos como Nuvem 33, Flaviola e o Bando do Sol – e estreitou relações com Marconi Notaro, Lula Côrtes e Laílson e o grupo Phetus.

“Havia uns músicos em Casa Amarela que queriam montar um grupo. Eles tinham os instrumentos, eu tinha as músicas e assim nasceu o Tamarineira Village”, conta o vocalista Marco Polo em papo exclusivo para a pZ. Isto aconteceu logo depois da 1ª Feira Experimental de Música de Fazenda Nova, uma espécie de Woodstock em território nordestino. “A água do festival foi batizada com LSD, então todo mundo que bebeu começou a viajar”, relembra o músico, que explica a origem do primeiro nome da banda: “foi uma alusão tanto ao nome do manicômio como também à Vila dos Comerciários, onde a maioria do povo morava.”

A mudança do nome originou-se da contratação do grupo para gravar um disco e da necessidade de profissionalização do sexteto (na verdade, eram sete membros, mas um deles não aparecia oficialmente – como veremos mais à frente).

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Dirty Work

A gravação do primeiro disco d´Ave Sangria, homônimo, foi realizado na Cidade Maravilhosa, no estúdio da Continental. A banda já havia chegado lá com tudo decidido: o produtor, escolhido pela gravadora, foi Márcio Antonucci (ícone da Jovem Guarda), e o tempo de permanência no estúdio foi de cinco dias. “Sabíamos que Márcio era da Jovem Guarda e que provavelmente não ia entender nada do que a gente queria. Mesmo assim, ele era um cara muito legal, que escutou nossas argumentações. Mas naquele tempo era muito difícil reproduzir num estúdio o que fazíamos ao vivo. Quem viu nossos shows garante que nosso som era muito melhor ao vivo do que em disco: mais selvagem, mais barulhento, mais sujo, mais a nossa cara”, conta Polo.

Além dele, faziam parte do grupo Ivson Wanderley (guitarra solo e violão), Paulo Raphael (guitarra base, sintetizador, violão), Almir de Oliveira (baixo), Israel Semente (bateria) e Agrício Noya, mais conhecido como Juliano (percussão).

O sétimo elemento da banda, que não aparecia nas apresentações, mas foi de suma importância na história do conjunto, era Rafles José. Seu amigo Marco Polo conta um pouco mais: “Rafles foi de fundamental importância em tudo. Foi ele quem deu o nome de Tamarineira Village para a primeira formação da banda. Era também um cara de uma energia super positiva, que neutralizava os problemas com sua presença conciliadora. E afinal ele era o meu amigo. Foi através dele que conheci os outros.

Quando chegou a hora de gravar, o grupo foi enxugado, ficando apenas os que tinham se tornado músicos profissionais, que não foi o caso dele. Ainda insisti para que ele permanecesse na banda, mas foi voto vencido”.

Foi de Rafles a ideia maluca de enviar, pelo correio, um portentoso baseado para Paul McCartney. E envolvido numa “seda” especial: legítimo papel Colomy. A resposta dos Beatles foi despachada meses depois: uma foto autografada pelos quatro.

As 12 composições do álbum passeiam pela irreverência, ousadia e, claro, amor e poesia. Isto já começando pela capa, adulterada, cuja gravadora não quis arcar com os custos da arte original – elaborada pelo conceituado desenhista Lailson de Holanda Cavalcanti.

Em “Dois Navegantes”, encontramos uma composição suave feita por Almir para uma bailarina por quem ele estava apaixonado. Já em “Georgia, a Carniceira”, temos “uma homenagem a São Paulo, uma cidade mística e noturna. Um símbolo, ao mesmo tempo sedutora e terrível”, de acordo com Polo. Desta música chegou a ser gravado um clipe, para o global Fantástico, que infelizmente nunca foi ao ar. “Cidade Grande” contou com a participação especial – porém “acidental” – do finado Zé Rodrix, que havia esquecido seu instrumento no estúdio e tinha voltado até lá para buscá-lo. Ao ver a banda executando a canção, Rodrix sugeriu aos músicos uma “canja”, que foi aceita na hora. E o que falar sobre “Seu Waldir”? Bom, esta faixa merece um parágrafo inteiro.

Salientando, o ano era 1974. Época na qual o glam rock estava em alta mundo afora. Já no Brasil, os paulistas dos Secos e Molhados aderiram ao estilo, mas ainda vivíamos sob um regime ditatorial, e a terra natal d´Ave Sangria situava-se em um pólo onde o machismo e os velhos valores e costumes se sobressaíam: o Nordeste. Então imagine o que era para a grande maioria daquele povo ouvir, na voz de um homem, versinhos do tipo “Seu Waldir, o senhor machucou meu coração / Fazer isto comigo, seu Waldir / Isto não se faz não / Eu trago dentro do peito / Um coração apaixonado / Batendo pelo senhor / O senhor tem que dar um jeito / Se não eu vou cometer um suicídio / Nos dentes de um ofídio vou morrer/ Eu quero ser o seu brinquedo favorito / Seu apito, sua camisa de cetim…”. Então o caldo entornou: pouco menos de um mês depois do lançamento, o elepê foi censurado. A Polícia Federal fez o recolhimento do material de todas as lojas, e as rádios foram proibidas de tocá-lo. A música foi considerada pelas autoridades “um insulto à moral da família pernambucana e uma apologia ao homossexualismo”.

“Quando eu trabalhava no Jornal da Tarde, cheguei a ser sequestrado por um grupo de rapazes (provavelmente do CCC – Comando de Caça aos Comunistas, um grupo paramilitar) que ficaram passeando comigo pelo centro da cidade enquanto propunham que eu abandonasse a reportagem que estava fazendo caso tivesse amor à vida. Foi bastante assustador. Mas o recolhimento do disco foi uma paulada na cabeça!”, recorda Polo.

O material chegou a ser relançado, porém sem a faixa “nociva”, suposto motivo pelo qual a TV Globo deixou de veicular o clipe de “Geórgia, a Carniceira”. O interesse da mídia em geral também já tinha esfriado. Com o orçamento sempre apertado, os integrantes do conjunto chegaram até a gravar vinhetas para televisão e material para rádios – no caso, jingles. Tal situação levou o grupo, conforme relata seu vocalista, a cair em um vácuo, após dois árduos anos de batalha para a gravação do álbum. “Alguns músicos tinham se casado e já tinham filhos. Então Alceu Valença propôs contratar os músicos para tocar com ele, garantido o pagamento de cachês, shows, viagens, etc. Eles vieram me contar e eu liberei o pessoal”, complementa o vocalista a respeito do fim da banda.

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It´s only rock´n´roll, mas eu goooooooostchu!

Não era somente “Seu Waldir” que deixava o povo chocado. As apresentações d´Ave Sangria resgatavam a malícia e encenações das bandas inglesas do anos 60 e 70, principalmente dos Stones. Com trejeitos à la Mick Jagger, retocado com batom (mertiolate, segundo Rafles) e mergulhado no universo pitoresco da androginia, os integrantes do grupo vestiam roupas escandalizantes, ostentavam a vasta cabeleira, chacoalhavam o esqueleto e horrorizavam os conservadores em geral. Reza a lenda que rolava até troca de beijos entre os membros da banda em cima do palco…

Marco Polo conta sobre suas memórias mais vivas dos primeiros concertos do conjunto, em Pernambuco: “O assédio maior era das meninas da Zona Sul. As ‘boizinhas’, ou ‘cocotinhas’ (hoje se diria patricinhas), que antes nem tomavam conhecimento da nossa existência, passaram a nos convidar para sair de carro e, naturalmente, faturá-las. Nos últimos shows, a lembrança mais viva era de que na platéia se misturavam essas pessoas da alta burguesia com o pessoal do morro, a plebe rude e ignara, unindo-os o fato de serem todos jovens”.

Além de Pernambuco, a banda chegou a tocar na Paraíba, Rio Grande do Norte e Bahia. A divulgação das apresentações era feita de forma simples, mas com muita garra. “Os próprios membros da banda iam todos às televisões e rádios da região, pregavam faixas, colavam cartazes nas paredes e distribuíam panfletos, tudo isso em torno de 15 dias antes dos shows. Às vezes chegávamos a virar a noite fazendo isso”, explica Polo.

Quem acusa a Ave Sangria de falta de originalidade está redondamente enganado. Pode-se dizer que a banda, além de suas facetas inovadoras no Brasil apreensivo dos anos 70, foi uma das precursoras do manguebeat. Quase duas décadas antes de esse termo ser cunhado, o grupo já tinha em sua música a mistura de baião e maracatu, ritmos regionais, com uma levada de rock pesado.

Texto de Lucas Mosca originalmente publicado na poeira Zine 28.