Foghat, a força do boogie britânico

Boogie feito por ingleses para o mercado norte-americano

por Bento Araujo     15 jul 2014

Foghat

A Inglaterra dos anos 60 tinha uma forte característica comum entre seus jovens. Geralmente quem se animava a enveredar-se pelo mundo da música, tinha como paixão suprema o blues norte-americano.

Tais jovens, guiados por dois mentores mais experientes (John Mayall e Alexis Korner) foram os responsáveis pela explosão da cena britânica de blues da segunda metade da década. Dos pubs vieram bandas maravilhosas, dentre elas o Savoy Brown, capitaneado pelo guitarrista Kim Simmonds.

Kim conheceu, em 1967, um desses garotos apaixonados pelo blues, seu nome era Lonesome Dave Peverett. Foi chamado para o grupo, onde começou desempenhando a função de guitarra base, assumindo posteriormente também os vocais. Dave registrou cinco fabulosos álbuns com o Savoy Brown e lá conheceu dois outros apaixonados pela música do Mississipi: o experiente baterista Roger Earl e o baixista Tony Stevens.

Cansados da mão de ferro de Simmonds e buscando o milionário mercado fonográfico da América, Lonesome Dave e seus dois companheiros, resolveram seguir uma espécie de visão. Acreditavam que o amor pelo blues e pelo rock dos fifties seriam o combustível para uma carreira repleta de sucesso e reconhecimento lá do outro lado do Atlântico. Eles estavam certos.

Em 1971, o trio pede as contas do Savoy Brown e parte na busca de um guitarrista solo para formar o novo projeto. Recrutam ninguém menos que Rod Price, uma lenda do slide-guitar e dos pubs britânicos; comparado somente aos mestres yankees do slide, como Duane Allman e Johnny Winter. Price vinha do Black Cat Bones, onde tinha substituído Paul Kossoff, lendário guitarrista que brilharia como poucos no Free.

Através de ótimos contatos, o quarteto, ainda sem um nome oficial, descola de cara um contrato com a Bearsville Records e os ofícios do produtor/músico/astro Todd Rundgren. Dão início à gravação do primeiro LP em Londres, porém a combinação Foghat/Rundgren se mostrou nada amigável. Resolvem tentar Dave Edmunds, que cai como uma luva na sonoridade do grupo, já que trabalhava num estilo mais Sun Records, bem característico dos primórdios do rock. Peverett adorou a escolha e assim foi registrado o primeiro disco da banda, que trazia além dessas sessões definitivas com Edmunds, algumas sobras da produção de Rundgren.

Na busca desesperada por um nome para batizar o grupo, escolhem Foghat, uma gíria criada por Peverett ainda na infância, enquanto brincava com seu irmão.
O disco de estréia também recebe o mesmo nome e é lançado em 1972, alcançando uma inesperada, porém ainda modesta aceitação na América, graças a uma versão para “I Just Want To Make Love To You”, de Willie Dixon.

Nos palcos, estréiam no pomposo Royal Albert Hall, em Londres, sem muito entusiasmo por parte do público inglês. Na seqüência fazem dois shows em Nova York, um deles ao lado do Beck Bogert e Appice. Sucesso absoluto. Ficava claro que a terra prometida estava ao alcance daqueles fanáticos pelo blues. Vão todos morar na América e começam a gravar o segundo álbum.

Foghat, também conhecido como Rock N’ Roll, saiu em 1973 e teve uma produção mais mainstream, o que garantiu status de boogie arena band para o grupo, além do primeiro disco de ouro. Caem na estrada coast-to-coast com o sucesso aumentando cada vez mais como mostrava o hino “Ride Ride Ride”. No ano seguinte sai Energized, com maravilhas do boogie rock como a versão visceral de “Honey Hush”, “Home In My Hand” e “Wild Cherry”.

Mais longas tours por todo o país, agora de jatinho particular como aparecia na capa do próximo álbum: Rock N’ Roll Outlaws. Apesar da qualidade roqueira em sua essência, o álbum não foi tão bem nas paradas como os dois anteriores, o que causou uma enorme preocupação quanto ao futuro do Foghat. O jeito foi apostar tudo no próximo álbum de estúdio.

Fool For The City veio em setembro de 1975, e é considerado até hoje como o álbum de estúdio de maior repercussão do grupo. Tudo isso graças à faixa título e a “Slow Ride”, hit nas rádios norte-americanas. O álbum foi produzido por Nick Jameson, que acabou também assumindo o contra-baixo após a partida repentina de Tony Stevens.

Jameson não agüentaria as exaustivas tours e a loucura da estrada, sendo substituído no ano seguinte por Craig MacGregor.

Agora o Foghat lotava estádios. “Slow Ride” estava fincada nos charts, e a preocupação de Lonesome Dave e sua trupe era a de criar músicas que funcionassem ao vivo na frente de milhares de pessoas. Com esse intuito, compõem e gravam, Night Shift, outro clássico da longa discografia do grupo, com produção do ex-Edgar Winter Group, o hitmaker Dan Hartman.

Apesar do excelente trabalho apresentado em estúdio, o quente do Foghat eram seus concorridos concertos. Com uma pegada vigorosa e excursionando sem parar, a banda criou uma invejável reputação pelas arenas da América. Muitos pensavam inclusive que a banda era norte-americana, fato não muito difícil de ocorrer até os dias atuais.

Em 1977 saiu um fiel registro desses concertos, Foghat Live, um dos melhores discos ao vivo da década de 70. Foi o mais bem sucedido álbum da banda, vendendo mais de dois milhões de cópias nos EUA.

Para produzir o próximo álbum de estúdio, recrutam o lendário Eddie Kramer (Led, Hendrix, Kiss, etc). Mesmo com uma parceria nada amigável, Kramer e o Foghat conseguiram registrar um excelente registro, vide a faixa título e as versões históricas para “Sweet Home Chicago” de Robert Johnson e “It Hurts Me Too” de Elmore James.

Essa era a grande sacada do Foghat, pegar a matéria prima do blues, dar a ela uma nova roupagem mais roqueira, temperar tudo com garra e paixão e derramá-la pelas arenas dos States. Receita que funcionou perfeitamente até 1978, quando o mundo já estava contaminado pela onda disco e pelo punk. Ninguém queria mais saber de blues ou boogie.

De 1979 em diante, o grupo experimentou uma repentina e violenta decadência, lançando álbuns nada inspirados, apenas meras tentativas de flerte com os estilos em voga na época, como a new wave. Rod Price abandonou o grupo em 1980, e mesmo sem ele, o Foghat se manteve bamba das pernas até 1985, quando tudo acabou de vez.

No começo dos anos 90 aparecem duas versões do Foghat, uma liderada por Lonesome Dave e outra pelo batera Roger Earl. A palhaçada não durou muito, já que em 1993, todos fazem as pazes e a banda original (com Price e Stevens) retoma as atividades. Lançaram um álbum de estúdio (Return Of The Boogie Men) e na seqüência um ao vivo (Road Cases), porém em 1999 interrompem tudo devido à doença de Peverett. O líder do Foghat sofria de câncer e veio infelizmente a falecer no ano seguinte, em 2000.

Mais recentemente foi a vez de Rod Price nos deixar. Mesmo sem a dupla de frontmans, o batera Roger Earl continua na estrada com uma versão duvidosa do Foghat, trazendo somente o próprio de integrante original. Chegaram a lançar dois discos de estúdio (Family Joules e Last Train Home), no entanto, muitos dos antigos fãs não consideram esses álbuns dignos de figurar na sagrada discografia oficial da banda.

Discografia:
FOGHAT (1st Album) (1972)
FOGHAT (Rock & Roll) (1973)
ENERGIZED (1974)
ROCK AND ROLL OUTLAWS (1974)
FOOL FOR THE CITY (1975)
NIGHT SHIFT (1976)
LIVE (1977)
STONE BLUE (1978)
BOOGIE MOTEL (1979)
TIGHT SHOES (1980)
GIRLS TO CHAT & BOYS TO BOUNCE (1981)
IN THE MOOD FOR SOMETHING RUDE (1982)
ZIG-ZAG WALK (1983)
RETURN OF THE BOOGIE MEN (1994)
ROAD CASES Live (1998)
KING BISCUIT FLOWER HOUR (1999)
FAMILY JOULES (2003)
LAST TRAIN HOME (2010)

  1. Henrique Gonçalves de Paula

    Parabéns pela matéria. O Foghat é uma grande banda e agora o Poeira Zine prestou sua homenagem a ele. Parabéns também pelo novo site que é muito mais interessante e bonito. Continuem assim, sempre inovando e buscando evolução: é o segredo do sucesso e da longevidade. Abraço.

    Responder

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